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Leticia Bufoni pronta para Olimpíada: 'Quero ser a referência que não tive'
Onde está uma, está a outra. Vendo o movimento da Vila Olímpica pelo binóculo, indo para o treino, comendo e até cantando. Nem parece que houve um dia em que não se conheciam. E que o sonho de Rayssa Leal —nessa época ainda uma criança vestida de fada e encantando todo mundo com seu skate— era conhecer seu maior ídolo: Leticia Bufoni.
Em tempos de Olimpíada, a parceria —que não é de hoje— se solidificou. E com bom humor, generosidade, carinho e amizade, Leticia, 28 anos, seis ouros nos X-Games, põe em prática seu grande sonho no mundo do skate: ser referência para uma nova geração de meninas skatistas —como Rayssa, de 13 anos.
"Eu sempre fui muito decidida em continuar no skate e superar os preconceitos que eu passei no começo de tudo, quando eu não tinha referências femininas em quem me espelhar", conta, em entrevista exclusiva ao Extraordinárias.
Ela lembra a época em que o pai não aceitava que ela andasse de skate, "porque achava que não era coisa para menina e, sim, de maloqueiro". "E os meninos que andavam nos mesmos lugares que eu botavam pressão para eu não estar ali. Ameaçavam me bater."
Então, comecei a andar de skate do meu jeito e querendo ser a referência que eu não tive, principalmente para as meninas. Usava legging, maquiagem, as unhas e o cabelo pintados de rosa. E ganhava dos meninos nas competições. Hoje eu vejo meu papel muito forte nesse sentido, de mostrar que o skate é um esporte, uma profissão, e que para ser skatista precisa ter disciplinas e não gênero. Fico muito feliz de poder inspirar mulheres a entrarem no skate.
Embora não tivesse referências femininas no esporte que escolheu, Leticia conta que se inspirou, sim, em atletas que mostravam que se posicionar é importante. "Eu admiro atletas de várias modalidades... Gosto muito da [tenista] Serena Williams. Acho que, em qualquer profissão, se tornar um ídolo está muito relacionado à representatividade. Vejo isso como uma consequência de alguém que se destaca no que faz, é engajado e passa a ser admirado por isso", afirma.
Campeã de tudo, Leticia tem agora na Olimpíada de Tóquio um desafio inédito em sua carreira —já que o skate está estreando nesta edição os Jogos. "Eu chego muito feliz, empolgada e ansiosa. Quando comecei a andar de skate, com 9 anos, eu nem pensava em ser profissional ainda, que dirá estar em um dos maiores e principais eventos de esporte do mundo!"
Sou skatista há 20 anos, então, hoje, representando o Brasil e as mulheres, me sinto muito orgulhosa e feliz de finalmente ter esse reconhecimento do skate como um esporte através de um evento olímpico.
O skate feminino estreia em Jogos Olímpicos neste domingo (25), a partir das 20h30 (horário de Brasília). E a esperança de Leticia, claro, é faturar uma medalha. Que sabor teria a conquista dessa medalha inédita? "Olha, o sabor de conquistar essa medalha deve ser bem salgado, porque vai ser com muito suor, viu [risos]! E as expectativas são as melhores, o Brasil cresceu muito no skate, tanto em número de atletas, principalmente mulheres, quanto na qualidade dos atletas. Hoje as melhores skatistas do mundo são brasileiras —além de uma japonesa que vem trabalhando muito bem também."
A experiência nas pistas, ela diz, traz segurança. "É claro que também estou ansiosa, sentindo as expectativas de uma nação inteira e participando pela primeira vez de uma Olimpíada, mas faz parte. Agora é um momento de muita concentração, treino, preparação física e psicológica para ter foco no dia de competição e performar o melhor que eu puder", afirma.
E vencendo ou não, é importante saber que a missão foi cumprida. O Brasil torce por Leticia, mas também agradece. "Quero inspirar as pessoas a se respeitarem no esporte e tornar o skate uma atividade e uma diversão para todos."
Ganhar medalha é bom, mas ter um ídolo para admirar é melhor ainda. Né, Rayssa?
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