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Laura, bronze no tênis: 'Se você aguenta tantas derrotas, vai chegar lá'
As Olimpíadas de Tóquio foram encerradas hoje e deixaram mensagens e lições sobre superação, otimismo e também derrota e limites. O Brasil teve uma participação cheia de frustrações, mas também de surpresas. E entre elas, a maior talvez tenha sido a medalha de bronze inédita conquistada por Laura Pigossi e Luisa Stefani, no tênis feminino.
As duas só conseguiram a vaga em cima da hora, a oito dias da estreia. Entraram após desistências de outras tenistas. Laura estava no Cazaquistão, e Luisa, nos Estados Unidos. Viajaram correndo para o Japão em busca do sonho olímpico. E fazem coro ao dizer que essa classificação tardia influenciou —e muito— na forma como jogaram.
"Só o fato de ter entrado de última hora para a gente já era uma conquista enorme. Não tinha nenhuma expectativa, porque uma semana antes de entrar nas Olimpíadas a gente estava fora. Então, a gente começou a competir com muita adrenalina. Com toda a garra, com todo o coração", afirma Laura.
Mas, para além de todas as mensagens que os Jogos Olímpicos deixaram ao mundo, especialmente num momento tão delicado quanto este, de pandemia, o que essa medalha pode significar e transformar no esporte brasileiro?
Em entrevista exclusiva ao Extraordinárias após voltarem de Tóquio, Laura e Luisa falam do sonho de inspirar uma nova geração de atletas —especialmente meninas— e de como esperam que o tênis seja mais inclusivo e menos elitista.
"Essa conquista simboliza muito sonhar e acreditar. E saber que se você trabalha duro o suficiente, se você tem uma boa cabeça e se aguenta tantas derrotas —porque o tênis é um esporte de derrotas, só uma pessoa sai ganhando a cada semana—, você pode chegar lá", diz Laura.
Leia, abaixo, trechos da entrevista.
UOL - A conquista da vaga de vocês foi uma combinação bastante improvável de acasos. Acham que essa decisão tão em cima da hora pode ter feito com que vocês competissem diferente de quem já estava classificado há mais tempo? De repente de uma forma mais leve?
Laura Pigossi - Com certeza. Só o fato de ter entrado de última hora para a gente já era uma conquista enorme. Não tinha nenhuma expectativa, porque uma semana antes de entrar nas Olimpíadas a gente estava fora. Então, a gente começou a competir com muita adrenalina. Entrou em quadra querendo dar o nosso melhor e lutar pelo nosso país, com toda a garra, com todo o coração.
Luisa Stefani - Era um objetivo meu há muito tempo jogar as Olimpíadas, e eu estava um pouco chateada, decepcionada por não ter entrado. Tive uns meses difíceis antes, com relação a resultados e também por ter tido apendicite logo antes do Roland Garros, que era provavelmente a minha última chance de tentar garantir uma vaga em Tóquio. Então, quando a gente recebeu a notícia de que tinha entrado, mesmo de última hora, foi uma conquista enorme, um sonho realizado. A gente chegou lá, e tudo era bônus. Fomos numa missão de conseguir uma medalha para o Brasil, mas foi uma surpresa surreal. E o resto da história foi ainda mais incrível e inacreditável.
UOL - Vocês já tinham amizade, já eram próximas? Como foi a troca nesse período?
Laura - A gente sempre foi muito muito amiga. Conheço a Lu desde que a gente tinha uns 12 anos. A gente fora da quadra tem uma amizade muito bacana, um belo entrosamento, vira e mexe ela vem ficar na minha casa em Barcelona. Compartilhar esse momento com ela fez tudo ser mais especial ainda.
Luisa - Conheço a Laurinha desde o juvenil, faz muito tempo. E, nos últimos anos, a gente se cruza bastante no circuito. Já fiquei na casa dela, já treinamos juntas, já compartilhamos bons momentos fora da quadra em Barcelona, quando eu estava por lá.
A gente já tinha jogado duas vezes juntas, mas não teve resultados tão bons. Até por isso talvez tanta gente não tivesse botado fé na nossa parceria para essas Olimpíadas. Mas a nossa conexão, liga, amizade foi muito importante para o nosso resultado. A gente tinha confiança uma na outra, felicidade, orgulho de jogar pelo Brasil. A gente estava na mesma missão, que era trazer uma medalha para o Brasil. Realizamos um sonho juntas.
UOL - Qual é a importância dessa medalha para o tênis brasileiro e o que ela pode transformar?
Laura - Acredito que essa medalha possa trazer inspiração para as crianças que estão começando no tênis —pelo menos é o que eu gostaria. Quanto mais pessoas jogarem tênis e amarem esse esporte como eu amo, já vai me deixar muito feliz e muito realizada.
Luisa - Essa medalha é histórica para o tênis brasileiro. Espero que motive muitas meninas, porque o tênis feminino está muito carente.
É uma oportunidade aparecer, de dar visibilidade para o tênis, que é um esporte ainda muito elitizado. Não é um esporte muito acessível, e poderia ser mais. Quem sabe possamos inspirar outras gerações a começarem a jogar e a buscarem esse sonho, como a gente buscou. A importância dessa medalha é fazer as pessoas acreditarem nos seus sonhos —sejam relacionados ao esporte ou não.
UOL - E para vocês, pessoalmente, o que representou essa conquista?
Laura - Para mim essa conquista simboliza muito sonhar e acreditar. Saber que se você trabalha duro o suficiente, se você tem uma boa cabeça e aguenta tantas derrotas —porque o tênis é um esporte de derrotas, só uma pessoa sai ganhando a cada semana—, você pode chegar lá. Para mim é uma conquista muito importante, que pode me impulsionar, me fazer acreditar mais, me fazer jogar ainda mais com o coração, com a alma, tendo garra sempre. Isso é algo que vou levar para sempre: a maneira como eu joguei e o nível a que eu posso chegar.
Luisa - Para mim, primeiramente, é um sonho atingido. E também fazer história no tênis brasileiro —não só pelo resultado em si, mas por tudo o que a gente mostrou, representando o Brasil, da forma que a gente fez. Demonstra que fazendo o melhor todo dia a gente é capaz de criar momentos especiais e inspirar outras pessoas. Isso é muito motivador para mim e mostra que a gente está no caminho certo, que a gente pode alcançar novas metas, novos sonhos, incentivando as pessoas ao nosso redor a acreditarem junto com a gente. Isso pode fazer um mundo melhor.
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