Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Em tempos de exposição, é de bom tom lavar roupa suja na internet?
"Lavação" pública de roupa suja. Alguma já te impactou? Por aqui, de vez em quando até espirra um pingo de sabão no meu olho através da tela.
A gente sempre teve curiosidade e vontade de saber mais sobre a vida dos outros, né? Livros, folhetins, novelas, filmes, teatro, seriados. A lista é grande. Nesses gêneros, temos a licença poética da ficção para adaptar, claro, histórias inspiradas em vidas reais.
Com as revistas, sites de fofocas e colunas sociais, temos acesso à vida das altas rodas, dos ricos e famosos. Tanto os que se mostram em ilhas e castelos, quanto aquele flagrados à revelia por paparazzi.
Pois bem, não fossem por quatorze minutos e quarenta e cinco segundos, Andy Warhol teria acertado a previsão sobre todos poderem ter seus gloriosos 15 minutos de fama. Na internet, todo mundo tem, de verdade, seus minutos (ops, segundos) de fama.
Hoje, a comédia e a tragédia da vida particular estão postas à mesa e nós mesmos nos tornamos protagonistas das fofocas. E olha que as pessoas se colocam ali por vontade própria. As redes sociais se tornam quase que um divã coletivo
Vale tudo: expor intimidades só suas, expor conversas com amigos, parentes e paqueras... Fofocas de quintal, que bem poderiam se manter na esfera privada, são expostas em detalhes, normalmente para provar a astúcia e ousadia do expositor naquele causo. Para agarrar afeto revestido de biscoito, tudo pode. De episódios sobre tretas com animais de estimação a enfrentamento com vizinha abelhuda e mexeriquenta. Tudo precisa ser compartilhado. Tudo é digno de espetáculo. Corre aqui, Debord, levanta rapidinho e vem dar uma olhada nisso.
O que estamos buscando, afinal? Acolhimento emocional, talvez? Confirmação? Me faz pensar naquelas cenas nas quais os adultos estão muito ocupados fazendo adultices e uma criança clama por atenção. E, depois de minutos de súplicas, finalmente a criança consegue um "ah, que lindo teu desenho" saído de uma boca revestida com um sorriso mecânico, de modo automático e fugaz.
Tá, mas a gente não estava falando de "lavação" de roupa suja? Pois é.
Às vezes, nessa ânsia por atenção e afeto, ao invés de compartilhar apenas rolês que digam respeito a si próprias, as pessoas compartilham prints de conversas e fotos de outros sujeitos que não escolheram essa exposição.
Obviamente, não me refiro aqui à exposições necessárias de crimes, atos ou atitudes que já não condizem (ou não deveriam condizer) com a sociedade civilizada do século XXI. Tô falando de tretinha. Tretinha que envolve um outro, que nem sempre tá ali para se defender. Tô falando sobre expor alguém com a conveniência de ter a audiência ao seu lado. Afinal, são seus "seguidores" e, sobre essa história ser exposta apenas sob um aspecto e um ponto de vista, tem um mundo de coisas.
Sempre bom pensar duas vezes antes de lavar uma roupinha suja em público. São só umas calcinhas, uns sutiãs e umas cuecas? Fecha a cortina e lava de boa. Só você e os envolvidos. Para de caçar assunto torto para se manter relevante e ganhar esses biscoitos estragados das mídias sociais. Ah, você tá a fim de dar lições? Ensinar as pessoas a viverem? Ah, tá, então vai ver como fazer isso usando o bom tom. Dá uma olhadinha nos conteúdos da Ilana Kaplan, que faz isso com garbo, elegância, inteligência e graça.
Entenda, criança, nem tudo é sobre você. Ou será que é? Quem de fato está se expondo? Como diz a já popular frase: "Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo". Se liga aí!
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