Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mesmo sem ligar pra tendências é legal saber como elas influenciam sua vida
E aí, você estava de olho nos desfiles do Calendário Oficial da Moda? As famosas Semanas de Moda de Nova Iorque, Londres, Milão e Paris. Ah, não? Pois é. Sendo honesta, nem eu tava...
Como já disse algumas vezes, trabalho com isso há quase vinte anos, sendo treze deles participando ativamente desse calendário. Aí já viu, né? "Ah, que glamour!" e "Ai, que chique!" sempre foram comentários ágeis e fáceis de aparecer depois de eu dar essa informação sobre trabalhar na moda. Viajar é muito bom, claro. Ver outros lugares, outras pessoas, comer outras comidas, sentir outros cheiros, ver outras luzes, sacar que a água desce no sentido oposto em ralos do outro lado do hemisfério. Tudo isso sempre me despertou admiração, encantamento. Daí ao dia -a dia ser chique, tem um hiato. Junto do tal glamour, vem uma chuva de perrengue, barraco, correria tombo, dente quebrado...
Mas e a moda? Desfiles, estilistas, modelos, celebridades, paparazzi? Flash, flash, flash. E trabalhar lado a lado com os nomes mais pesados da indústria? Igual.
Admiração e encantamento pelas dinâmicas, e admiração e encantamento pelo frenesi que esse universo causa em muita gente, mas nem todas...
Sempre foi muito claro pra mim: há duas bolhas. A bolha da moda e de quem se interessa pelo assunto, a das pessoas que trabalham por dentro da máquina e, portanto, precisam minimante saber o que está rolando (com ou sem amor). E a outra, das pessoas que cagam total para o tema: "Balenci o quê?" Bem, até o Homer Simpson aprendeu a falar Balenciaga.
Então, o que rola nas passarelas fica restrito àquele universo? O pessoal que não tá nem aí nunca chega a ser afetado pelas tais tendências de moda? Bem, não diria isso. Sem nos darmos conta, a gente come muita tendência com farinha.
É como diz a Miranda Priestly de Meryl Streep, em "O Diabo Veste Prada": o suéter azul celeste não chegou na loja de departamentos por acaso.
Por exemplo, trazendo para o mundo da beleza: sabe essa maquiagem mais "limpa" que vemos hoje em dia, sem tantos elementos acontecendo ao mesmo tempo, mais econômica quanto às quantidades de produto? Pois é. Veio dali. Desde 2009, em quase 100% dos casos, era esse o tema.
Pele mínima, produto apenas onde necessário. O foco no skincare e a maquiagem só para dar o toque mágico. Presta atenção naquela blogueira de moda que você segue faz uns dez anos. Se liga nos looks que ela fazia e no que ela pregava em termos de maquiagem e como ela anda hoje em dia. Não tô me referindo aqui às contas de Instagram dedicadas à maquiagem total. Esse é outro tema. Outra luz, outros filtros, outra vida.
A transformação é clara e evidente. Quão mais próxima a estética atual está hoje do que era regra nas passarelas de anos atrás? Então, sim, a moda (ainda) guarda essa função de impulsionadora de caminhos, de abridora de picadinhas nas matas.
Ao mesmo tempo, estando ali de olho, tem um lance que sempre me liguei - a repetição. "Pera, esse negócio aqui já tava rolando ano passado e no outro também, só deram outro nome". Pois, como dizem, o 'baguio' é cíclico. Vai e vem o tempo todo. Se está procurando por tendências avançadas, bom mesmo é se ligar naquilo que te faz apertar o olho. No que te faz questionar sobre o belo e o próprio conceito de bom gosto.
Agora, pensa na ousadia de quem decide colocar sob os holofotes coisas que, em geral, sofrerão críticas severas das massas. O desprendimento necessário. Ousar macular o conceito de belo, de normalidade, de simetria e de ordem. Lembro das tais sobrancelhas muito presentes em diversas temporadas a fio - up and out (pra cima e pra fora, em tradução livre).
Criticadíssimas! Odiadas pelo grande público - "Ah, tem gente que acha bonito ser feio" "Nossa, não tinha equipe de maquiagem lá?" Era carinha de vômito a rodo nos comentários das fotos do evento.
Corta para o agora. Sabe qual é uma das maiores tendências para sobrancelhas fora das passarelas? A tal Brow Lamination, que, adivinha? Vem a ser a mesmíssima estética das "pra cima e pra fora", meio grudadona na testa. No limiar do caricato.
Na temporada que se encerra agora, o que rolou? Fora o de sempre - pele mínima e luminosa; foco nos olhos ou na boca; décadas revisitadas (nesta temporada, 60 e 90); delineadorzão (novo?) ou olho esfumado; grafismos batizados em azul... Não vai no olhão? Então vá de boca preta ou roxa, meio goticona. Aproveita e taca gloss em cima pra selar com o efeito laqueado. Novo? Hmm...
Sabe o que vem vindo e que ainda não vi geral aderindo? A expansão de outras áreas do rosto - nascer do sol na testa, uma orelha brilhante ou um rosto adornado com joias. Isso não pro carnaval, mas pra ir pra aula ou pro escritório, pra dar rolê no metrô.
E aí? Bora comprar pão com um caminho de strass atravessando o rosto? - do topo da testa à ponta do queixo! Amaria! Liga o telejornal e tá lá a apresentadora com as bochechas fluorescentes. Por que não?
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