Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mais perverso do que apagar o significado do Dia da Mulher é maquiá-lo
O poder da maquiagem é mesmo impressionante. Tanto que uma data histórica tem sido maquiada há anos embaixo dos nossos narizes: o Dia Internacional da Mulher. Maquia-se a data com flores, bombons, cosméticos ou uma linda lingerie. Tudo devidamente embalado com delicadeza, em papel de seda rosa e lindos laços de cetim.
Mais perverso do que apagar um significado, é esvaziá-lo de sentido, maquiá-lo, deturpá-lo, afastá-lo de seu objetivo e simbologia primordiais. A quem interessa essa desconfiguração de significado?
A data comemorativa, surgiu há 230 anos, após uma sucessão de fatos ligados à luta pela emancipação feminina e igualdade de direitos. Nasceu num contexto de lutas, de conquistas. Não está associada a um evento isolado, mas sim a todo um movimento. Pra quem tiver a fim de saber mais sobre a origem, vale a pena dar uma olhada no nome de Clara Zetkin. Se o interesse brotar forte acerca dos desdobramentos oriundos dessa data e o que vem sendo feito e discutido atualmente, dedique-se à programação do #8M do blog da Boitempo.
Voltando pra maquiagem. Impossível não pensar no modo como essa data de protesto contra desigualdades, ironicamente, acabou se tornando uma data linda para o capitalismo faturar um pouco mais e para o mercado enaltecer (coberto de interesses) uma ideia rasa e superficial acerca da mulher.
Não vim aqui fazer "mimimi" com vocês, não. Vim propor que a gente olhe com mais cuidado e atenção para as coisas. Que coisas, Fabi? Movimentos, comemorações, conflitos, falas. Acho que um bom exercício sempre é buscar as origens. Claro que a gente vai buscar em mais de uma fonte e sempre confirmar a credibilidade e checagem de dados de tudo. Já não caímos mais em fake news, né?
Então, tá combinado. A gente primeiro tenta entender o rolê, depois comemora, protesta, comenta ou ignora. Beleza?
Ah, mas então a data não tem nada a ver com isso de reverenciar o que quer que seja considerado como a tal "feminilidade"? Não. Na real, não. Mas você pode querer comemorar "isso"? Pode, naturalmente.
Nesse caso, que tal dar uma mergulhadinha no tema? O que é isso de feminilidade? Como essa ideia te atravessa ou te contorna? O que tá (ou pode estar) associado a isso?
8 de Março representa uma luta. Você não precisa querer lutar, mas talvez te interesse fazer questionamentos sobre a representatividade da data. Se, mesmo esse questionamento não te emocionar , talvez valha a pergunta "o que é ser mulher?" ou "o que é tornar-se mulher?" (beijo, Beauvoir)
Essa também é uma ótima data pra se pensar o conceito de empoderamento e tudo que vem sendo associado ao termo. Pensa aí quais são os sujeitos considerados empoderados, os detentores de poder dos nossos tempos. Faz uma lista rápida de palavras associadas à essa pessoa. Liberdade, poder de decisão, dinheiro, direitos básicos garantidos e por aí vai.
Não, o batom vermelho não está entre esses itens. Ele pode te deixar gata, confiante, ajudar na relação com o olhar carinhoso para si, mas ele, sozinho, não te dá poder. Ter o "direito" de usar batom vermelho, em alguns contextos, pode significar avanço, mas nossa luta é por muito mais. Olho vivo, amoras! Pintados ou despintados, mas vivos!
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