Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Receita secreta de como ser musa do Carnaval
E aí, viu os desfiles das escolas de samba? Se não ao vivo, ao menos pelo noticiário ou pelas mídias sociais você deve ter visto alguma imagem da festa, né?
Babado, hein? Queria muito abordar a importância de uma entidade como o orixá Exú —o mais próximo dos humanos e, talvez por isso mesmo, o que mais assusta e gera especulações aos leigos— estar no samba-enredo e temática de uma escola. Mas, mais uma vez, a beleza berrou.
Fiquei boquiaberta com os corpões. É realmente muito impressionante ver corpos que parecem talhados à mão por alguma divindade. Sim, porque na rua, no rolê, a gente vê bem poucos corpos como aqueles. Até vê, mas são um percentual mínimo da população. Visivelmente gente que tem linha direta com ascendência divina. Por respeito, evito até olhar nos olhos...
Mas, temos também outros corpos, os corpos montados. Feitos sob medida. Não por deusas e deuses, por humanos mesmo. Dá pra comprar de bouas, desde que você tenha grana, claro. Esse diálogo seria perfeitamente possível: "Tá pra quanto um corpão desse?", "Ah, tô pagando no carnê... Mas, no total, gastei uns 300 mil reais até agora."
Num desfile de escola de samba, esses corpos são posicionados entre alas e blocos, em contrapontos bem específicos. Ali, cumprem esse papel, fazem essa marcação. Os corpões também podem ser vistos num posto bem alto, no destaque. Claro, onde mais?
Nessa temporada de Carnaval (sim, começamos em fevereiro e tamo 'finalizando' em abril), a discussão sobre quem pode ou não ser rainha/princesa ganhou força nas redes sociais. A discussão girou em torno do 'samba no pé'. Pensando na lógica de que tipo de reis e rainhas devem vir à frente da bateria, por exemplo. Ela, que é chamada de coração da agremiação, ou seja, um dos elementos mais importantes de uma escola de samba (vou soletrar S-A-M-B-A). Talvez fizesse mesmo sentido ter gente com ancestralidade, história no samba e capacidade de mover o corpo levado por esse ritmo. Nem todos têm... Não basta nascer no Brasil.
Não, só balançar a bunda e ter destreza no quadradinho de oito, nove, dez, não funciona. Tsc, tsc, tsc. Reivindicando a popularidade do Carnaval no país, a festa deveria ser sim para todos, mas, numa escola de samba, era bom pensar direitinho sobre essas escolhas e seus significados.
Voltando à estética dos corpões. Então, hoje vim aqui criticá-los? Se pah fiquei com invejinha e me deu vontade usar esse espaço pra desabafar? Se pah...
A gente vem tentando lidar com nossos corpos humanos faz um tempo. Parecia que tinha um lance de aceitar geral, aceitar outros corpos. Mas a maior festa popular vem e vrau! (ao menos em sua versão mais comercial e midiática, o sea, a mais consumida pela massa, logo, a que mais influencia a massa).
Bem, na verdade, vim aqui compartilhar minha ingênua surpresa sobre quão pouco evoluímos nessa discussão. Quando parece que a gente tá caminhando, falando sobre corpos diversos e da derrubada dos velhos padrões de beleza, pah: as musonas sambam (ou não) nas nossas caras!
"Ah Fabi, pera lá. Sempre foi assim, é lindo de ver...", "As pessoas querem ver magia...". Olha, sinceramente, o que eu acharia bonito e honesto de ver seria o compartilhamento total da receita de como alcançar aquele resultado. Qual o preço? Financeiro e psíquico. Passa essa lista —dietas, cirurgias, procedimentos, produtos. Quais foram as privações?
Depois o povo enche a boca pra demonizar "a outra" que fala sobre os efeitos do pão francês e do brigadeiro no corpo. Não obstante o absurdo, ela tá sendo honesta, mandando a real sobre o jogo. Amores, não se mantém aqueles corpos às custas de docinhos. Esses são esconjurados e sumariamente retirados da rotina por um bom tempo. É muita privação!
E, adivinha? No dia seguinte, depois do primeiro carboidrato goela abaixo, as coisas voltam ao seu curso natural. Curso natural!
Bora compartilhar como seduzir e encantar com corpões montados? Assim, as pessoas podem ao menos saber quanto vale o show, daquele jeitinho como faziam as (hoje criticadíssimas) revistas femininas no 'passado'. Sobre o discurso da aceitação, diversidade e tals, a gente entendeu bem direitinho. Estamos de olho.
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