Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Cansada de perfeição e beleza? Hora de ser real e compartilhar imperfeições
Tá de saco cheio da perfeição, beleza e falsidade de algumas redes sociais? Então, talvez seja o caso de entrar no app do momento: BeReal —em tradução livre, algo como SejaReal. Ah, sim, se você caga pra mídia social, pode achar que a coluna desta semana é dispensável. Mas fique aqui comigo, que a reflexão vai para além do mundo virtual.
Lembra da tua primeira postagem no Instagram? Se você não for um rolo compressor de produção de conteúdo (se for, pode ser demorado chegar no início), cola lá e dá uma olhadinha. A minha, nos idos de 2011, era uma foto de um trabalho que eu tava fazendo (no início dessa rede, caso não saiba, o lance era compartilhar fotos. Nada de vídeos, danças ou mercadão. Fotos. Até uma série aleatória de fotos de pés feios —leia-se pés reais e sem preparação para foto- eu postei). Fui dar uma olhada nessa linha no tempo e encontrei inclusive uma cópula de besouros... Ah, a infância digital...
O baguio era altamente sem noção e descuidado. Zero preocupação editorial. Apaguei (na real, nem apaguei, arquivei) pouca coisa —basicamente, fotos dos meus filhos, por entender que não deveriam ser expostos (dá pra escrever 100 colunas explorando esse tema). Pero, muitas vezes, tomada por corujice, amor e vaidade, botei fotos dos lindos por lá.
Parece que foi ontem, mas, 11 anos depois, tanto o meu quanto o feed da torcida do Corinthians mudaram absurdamente.
Isso acontece não só no Instagram, mas também no Twitter, Facebook, YouTube e até no LinkedIn. Muitas das redes tornaram-se verdadeiros balcões de negócios e fonte de renda para muita, muita gente. Não é uma crítica, afinal, boletos never ends. Fonte de renda para alguns e de angústia para outros. Afinal, junto com a profissionalização de algumas dessas plataformas, também rolou o overposting de conteúdo "supertratado", dos melhores e mais belos momentos de rostos, corpos e vidas (pretensamente) perfeitos.
Com a proposta de justamente se opor a esse controle e edição do que é compartilhado, surgiu a rede francesa BeReal (que já existe desde 2020). Ano passado, o app começou a bombar entre estudantes na França e cresce a cada dia nos Estados Unidos.
Mas, então, qual a proposta do aplicativo? Bem simples: desglamurizar o rolê, compartilhar o que vier na hora estipulada pelo app. E que hora é essa? Aí é que tá. Você nunca sabe com antecedência. As postagens acontecem apenas uma vez por dia, em horário definido pelo aplicativo de forma randômica. Os usuários são notificados sobre essa hora ao mesmo tempo. Quando você clica em "postar", a câmera do seu celular abre e um cronômetro de dois minutos começa a rodar. Você tem só esse tempo disponível para fazer a publicação.
O app capta sempre duas imagens sequenciais —uma da câmera de trás, que revela seja lá o que estiver ao teu redor, e outra da câmera de frente (normalmente da sua cara num ângulo bizarro). Você tem a opção de postar ou não (ufa, já pensou na treta?). No entanto, se você deixar pra fazer em outro momento, a indicação sobre quanto tempo depois do "combinado" você postou aparecerá junto à tua foto. Você só tem acesso às postagens dos outros usuários depois que postar o seu momentinho zero glamour.
O desejo da rede é varrer a competitividade que outras plataformas despertaram entre os usuários, além de não os sobrecarregar com conteúdo. Você entra ali, posta sua esquisitice (ops, sua realidade), dá uma rápida olhada na dos outros e vaza. Assim como eu, você pode estar pensando: "Se as pessoas tão de saco cheio e angustiadas com as mídias sociais, não seria uma boa ideia largar o celular um pouco? Não olhar nem entrar em nenhum aplicativo at all? Ser real no mundo analógico 'memo', sem precisar compartilhar no digital a tua realidade?"
Bem, não sei quanto estamos ligados de modo definitivo aos nossos aparelhos, redes sociais e vida digital, mas a ideia de compartilhar e ver momentos reais e despreparados de outros humanos, pode ser tranquilizante para muitos. Você posta uma foto do seu prato de almoço e depois vê que diversas outras pessoas postaram a mesma coisa ao mesmo tempo. Pode dar uma sensação de comunidade, de humanidade. Caras limpas e cenários desarrumados, que tal? Resta saber se de fato a gente aguenta e deseja tanta verdade ou se ainda vamos seguir buscando um ideal e sofrendo com o falso ideal do outro. Ah, o ser humani... Nada de novo sob o sol.
Vem conversar comigo? Aqui no @fabi.gomes.
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