Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como manter a cara erguida
E aí, como você tá nessa luta contra a natureza? Ainda tá conseguindo manter a cara erguida? A fuerza da gravidade tá aí, lokona, com toda sua pujança, dia a dia puxando tua cara pra baixo. Como você tem lutado contra isso?
Uma das coisas mais legais em trabalhar na Indústria da Moda e Beleza é ter esse revelador acesso ao que rola por trás, no tal behind de scenes (atrás da cena). E, olha, meus amores, pelo que pude ver até agora, não é pouca coisa. Mil truques. De intervenções com maquiagem a manipulações digitais e analógicas, pós-tratamento, e até luzes que "queimam" qualquer imperfeição ou dado de realidade que não sejam bem-vindos, em se tratando de moda, sedução e encantamento.
Quando digo que esse acesso é muito legal, quero dizer que dá um quentinho no coração deparar-se com essa revelação: é tudo mentira! Ninguém é tão lindo, tão perfeito, guardados aqui todos os aspectos subjetivos, assim como as doses cavalares de sugestão, relacionadas aos padrões que fomos levadas a acreditar serem os ideais.
O sea, é libertador ver o quanto as top models e celebridades consideradas estandartes da beleza, representantes legítimas da apoteose da "deusice", são pessoas mesmo. Sim, uma gente bonita, claro (com aquela gigante ressalva acerca do que afinal é considerado bonito e por que) . Mas gente com poros, cabelos ressecado, bolsa sob os olhos, olheiras, celulite (!!!) —imagina isso? celulite. Até estrias essa gente têm. Aí você aperta o olho e ainda pensa: "porran, e olha que ela tem todos esses acessos estéticos, alimentares, grana, permutas e procedimentos de ponta".
Juntando "lé com cré", naquela cadeia associativa básica, você reflete: "nossa, se mesmo os grandes ícones de beleza, com todos esses acessos, têm 'essas coisas' desagradáveis e profundamente humanas, até que não tô tão mal...". E esse é o momento em que você meio que faz as pazes com a tua beleza, com a tua humanidade na real.
Alguns desses segredos (ou seria melhor dizer truques cênicos?) ficavam restritos ao backstage, ao camarim. É lindo de ver o brilho nos olhos das pessoas quando se compartilha alguns deles, como, por exemplo, uma técnica de aplicação de cílios feita abaixo dos fios naturais. É uma das mais utilizadas por celebridades galáticas, já que o resultado final é muito natural.
Fica parecendo aqui pra Patetolândia que aquela espécime humana foi naturalmente abençoada por cílios em profusão, naturalmente longos e curvados. Truque.
Pensando na sociedade do espetáculo, até que faz sentido recorrer-se a tantos truques e segredos dentro do circo do inalcançável. Mas, alongando azideia um pouco, a gente se dá conta de que muitos desses truques são usados apenas com as minas. Sem mencionar todo aquele aparato do desconforto que acompanha essa estética.
Recentemente, tem se colocado foco num desses truques: o Face Taping. Refiro-me aqui a um certo tipo de adesivagem do rosto, não a procedimentos ou massagens. Recurso utilizado para manipular rostos e expressões em fotos e vídeo, é literalmente uma espécie de fita adesiva que se cola nas laterais rosto e tem as pontas puxadas por um fio escondido debaixo dos cabelos. É o que garante aquele ar egípcio. A aniquilação de rugas e excessos indesejados de pele. Os "durex" ainda são usados pra se alcançar o polêmico foxy eyes.
Onde tô querendo chegar com esse conversê? Acho muito massa a revelação dos truques, puxar a cortina e mostrar a peladice, a vida por trás da magia. Agora, passar a incentivar isso como algo possível e, se pah, incorporado à rotina de maquiagem atual, vai de encontro a todo papo da autoaceitação. Sim, sim, a gente se aceita conforme dá e no tempo de cada uma. Não dá pra entubar a autoaceitação do dia pra noite, e, de repente, sentir-se bem e plena num corpo e numa estética que fomos levadas a crer como incorreto e insuficiente. Agora, meus amores, "vender" a técnica como algo normal e possível, é seguir apertando o botão da neurose e da insatisfação nas mulheres. Vamo se ligar nos discursos e no que e como compartilhamos? Já que o clique é o que vale, compartilha pandas, pets 'fofitchos' ou memes. As minas já tão com muitos B.O's pra lidar.
P.S: Olha, nem entramos no aspecto ligado ao etarismo por trás desse rolê. Dá pra fatiar esse tema em outros mil. Venha trocar ideia comigo nas redes, em @fabi.gomes
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