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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pele jovem e rostos padrão: os tutoriais que você consome são todos iguais?

Na era da autoaceitação e do festejar das diversidades, a gente ainda encontra tanto muito conteúdo de maquiagem semelhante  - Photo by freestocks on Unsplash
Na era da autoaceitação e do festejar das diversidades, a gente ainda encontra tanto muito conteúdo de maquiagem semelhante Imagem: Photo by freestocks on Unsplash

Colunista de Universa

09/08/2022 04h00

Pensa comigo —quando você vai em busca de informação e referência de beleza, mais especificamente, maquiagem, em geral, o que encontra?

Repare em alguns aspectos. O primeiro, o qual considero da maior importância a gente tratar e pensar pesadamente: que rostos são esses? Me refiro aos rostos das modelos que são escolhidas para receber e mostrar essa maquiagem. São parecidos entre si? Quais características esses rostos têm em comum?

Em geral, são rostos de pessoas brancas. Quando não, rostos de pessoas pretas, pero, com traços convencionalmente associados a pessoas brancas. Começa daí essa dança. E os olhos? Aqueles olhões (considerados) bonitos, demonstrando toda uma profusão de sombras em diversas cores e texturas. São, quase sempre, olhos grandes, com espaço de pálpebra. A forma é amendoada, arrebitadinha. Nada de peles "desagradáveis" no caminho do delineador.

Nos vídeos de delineado, um dos elementos mais desejados da maquiagem, o traço corre solto, num único e belo movimento, rapidamente captado e sedutoramente editado com músicas e mágicas transições de imagens. Você não entende direito como foi feito, mas acha lindo! Fica de boca aberta.

Falando em boca, e essas bocas ideais, como são? Sempre carnudas, opulentas, em formas que parecem saídas de personagens de contos de fadas. Sim, muitas vezes poderiam ter saído de contos eróticos também... Mas nada de bocas murchas, pequenas ou rugas no rolê. Só bocões (ditos, vendidos e considerados) gostosões são aceitos. Você não se identifica, não se vê, mas acha lindo. Depois de uma excursãozinha por esses conteúdos que assolam a internet, de repente, fica 'meio que' se sentindo uma bosta, frustrada. Mas segue consumindo.

Voltando ao rosto. Noventa por cento das vezes, ele é, naturalmente, um rosto jovem. Naquele formato esculpidão, harmônico.

Curioso que na era da autoaceitação e do festejar das diversidades, a gente ainda encontre tanto conteúdo semelhante. Não por acaso, esse lance de harmonização facial tem funcionado como verdadeiros caça-níqueis. Afinal, ainda que festejemos a diversidade, parece que o importante de fato é ficarmos todos iguais. Do jeito como é, você nunca é suficiente, não tá de acordo com os padrões de correção.

Pensando em quem consome esses conteúdos com o intuito de aprender a se maquiar e não só como escapismo. Afora o padrão do que é escolhido ser mostrado como modelo nos conteúdos disponíveis, queria te convidar também a pensar em quão didáticos e educativos eles de fato são. Você aprende com o que vê? Fazendo isso há tantos anos, aprendi muito, inclusive sobre o que compartilhar e como. Maquiagem tem técnica, tem jeitinho e saídas mágicas, que você só entende fazendo e falando sobre. Pensa nisso quando tiver consumindo conteúdo sobre beleza e maquiagem —o que você tá a fim? Aquilo ali é para você? Tá rolando comunicação de fato, ou você tá só passivona, recebendo algo que nem contempla tua existência?

Mas claro que dá pra ficar só assistindo, babando e engajando conteúdos aleatórios. Também dá pra aprender a fazer e revelar a tua beleza. Escolhas.

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