Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O silêncio dos coniventes: na academia, no palanque, na rua Amauri
Tava com a ideia de falar sobre tantas coisas... Mas aí "o assunto" se joga no meu colo! Não tem jeito, "a situação" acontece o tempo todo em toda parte.
Que situação, qual assunto?
Vem!
Imagine uma academia de alto nível —seja lá o que isso possa significar, mas não vamos explorar os signos linguísticos. Vamos focar no rolê. Uma academia de luxo mesmo, com mensalidades em torno de 1.185,00 'golpecitos'.
Aí, você tá lá de boa, pagando teu treino, e vem um boyzão empresário que, depois de ter rondado de modo intimidador o lugar onde você estava, ordena que você saia dali. Pede uma, duas, três vezes. Você se recusa. O que ele acha razoável fazer? Te agredir. Encostar no teu corpo e te empurrar.
Um dado a mais do causo: o dito cujo já havia se lançado a tentativas de aproximação, mas de outra ordem —aproximação sexual. Como você não tinha interesse, recusou-as.
Se ligou que não tô usando gênero quando me refiro à vítima? Sim, queria deixar esse lugar livre para ocupação. Quero acreditar que a maior parte das PESSOAS numa situação como essa se sentiria agredida, aviltada, inconformada. Não é mesmo? Faça esse exercício, como você se sentiria? Bote na balança a informação de que se trata de pessoa influente, endinheirada. Um colecionador de armas que não gosta de ser contrariado.
Pois é, acontece que, por acaso, só por acaso, a pessoa destinatária de tais agressões era uma mulher.
Outro dia, falando de violência contra mulheres aqui nesse espaço, propus um exercício imaginativo aos homens: que, ao se depararem com situações de agressão e violência contra mulheres, pensassem nas mulheres ao seu redor —mães, filhas, irmãs, amigas... Pensando assim, em criar alguma identificação possível.
Errei. Errei e faço agora mea culpa sobre quão questionável essa proposta poderia ser. Portanto, invoco o fator humano e subjetivo — você, como você se sentiria nessa situação?
Esse episódio só piora quando lemos os comentários da matéria. Alegações jocosas, maldosas e machistas em relação ao fato da vítima ser modelo. Insinuações sobre se seria "modelo mesmo".
Qual o ponto? Qual a relação? E se não fosse? Como de costume, as insinuações relacionavam a profissão de modelo à prostituição. Então, pergunto outra vez: E SE fosse uma prostituta, a violência estaria naturalizada e validada?
Quando até o chefe máximo da nação se sente à vontade para atacar e agredir uma jornalista em rede nacional e muitos calam, me parece que, sim, podemos atestar que há um problema estrutural que precisa ser tratado por toda a sociedade.
Adivinhem quais pessoas, no momento do evento, saíram em defesa da jornalista? Outras mulheres. Após intermináveis minutos de silêncio sobre o fato e orientados por suas assessorias, dois candidatos decidiram se posicionar.
Ah, também teve o 'momentum' do candidato da Rua Amauri, que rebatizou a lei mais importante de defesa dos direitos das mulheres —Maria da Penha, por Maria da Paz, revelando todo seu conhecimento e interesse pela questão.
Os dois últimos parágrafos referem-se ao primeiro debate presidencial do ano. Você que ainda acha que tudo isso é mimimi, esperte-se, nossa rede só aumenta. A água tá batendo na bunda!
Se quiser trocar ideia, cole no meu Instagram @fabi.gomes. Por motivos de preservação da saúde mental, não leio comentários aqui.
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