Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A batalha do resto de nossas vidas foi decidida domingo: e o amor venceu?
A primeira grande batalha do resto de nossas vidas foi decidida ontem. Num jogo de catimba... Não, catimba, não, num jogo sujaço, em que um lado teve toda máquina do governo à disposição.
Polícia Rodoviária Federal impedindo eleitores de votarem em lugares estratégicos do país. Crimes eleitorais a rodo, com muitos empregadores ameaçando seus funcionários de demissão, caso não votassem no candidato indicado por eles. Dinheiro público posto na roda, para encantar eleitores, mais ou menos como naquele meme no qual uma pessoa faz notas de dinheiro voarem, distribuindo por todos os lados. Teve, literalmente, tiro, porrada e bomba. Debates de nível vergonhoso, no estilo 5ªB. Fake news das mais absurdas e risíveis —"vão confiscar 80% das residências para abrigar famílias sem-teto", "vão fechar igrejas", "vão confiscar as poupanças", "implementarão banheiros unissex nas escolas"...
Rolaram tentativas mixurucas, "à la Trapalhões", de golpe. Historietas sem pé nem cabeça, que faziam eles próprios se desmentirem.
Levaria dias para listar todos os absurdos que nortearam essas eleições e davam clara vantagem a um lado. Lembra quando, na mais absoluta e covarde maldade, quebram a perna do Daniel de "Karatê Kid", para que ele não pudesse lutar e perdesse a final?
Pois é, foi mais ou menos por aí, com um temperinho de limão nos olhos. Até um fajuto "candidato padre" botaram no roteiro pra golpear o adversário.
Ainda assim, contudo, Lula venceu. E uma das frases mais citadas e reproduzidas durante a campanha de Lula foi "o amor vai vencer o ódio". Após a vitória, se transformou em "o amor venceu o ódio".
Será? Ainda que esse percentual do outro senhor tenha sido inflacionado pelas trapaças mencionadas acima (essas e muitas outras, a gente nem falou da máquina digital de mentiras), tem uma boa parcela da população que continua com esse ódio lá. Antes, bem guardadinho. Depois, bem afloradinho. E agora? Como vai ser isso? O ódio não vai desaparecer num passe de mágica.
A gente vai precisar se haver com esse ódio. Escutar e elaborar. A coisa mais linda seria esses dois lados, esse "Fla-Flu", praticarem a escuta mútua. E, depois, o respeito. Praticar a aceitação das diferenças bem bonitinhos, sem tentar matar o amiguinho, nem chamá-lo de feio, sujo, cabeça de mamão —para ficar nas metáforas mais pueris e não levar aos extremos absurdos, impronunciáveis, que foram proferidos e realizados, com desdobramentos bárbaros e criminosos, contrários a qualquer ética democrática ou mesmo o reivindicado amor cristão.
Um bom exercício seria o de pensar na linha frouxa entre amor e ódio e trabalhar nisso. Lula disse: "Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação". Sábio. Para permanecer nas metáforas fofas, talvez fosse o caso de pensar o Brasil como uma grande família.
E aí é aquele negócio, tem sempre um tiozão ou uma prima que não suportamos. Mas, quando a gente encontra com esses anjos, não pega bem acabar com o clima e engajar na treta ou sair na mão.
Na melhor das hipóteses, nos sentamos à mesa e brindamos. Às vezes, até fingimos que não falamos português... Lindo mesmo seria entender por que essa prima e esse tio nos irritam tanto. O que tá refletindo ali? Pero, se isso for difícil, sorria pra foto e deixa a festa rolar na paz. Vai elaborando conforme dá. Por enquanto, no momento que teclo com você, quase 24 horas depois de declarada vitória do jogo, teu tio ainda tá trancado no quarto fazendo birra, não quer dividir a bola.
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