Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Roupa bege, preta, branca... Quando foi que nos tornamos tão caretas?
Atravessada pelo espírito do ano, prestei mais atenção do que o normal nas vestimentas das pessoas nos últimos meses. Sim, tinha sempre alguns significantes prioritários no radar —vermelho e verde e amarelo.
Ficava tentando fazer o DataFabi das ruas e lugares por onde passava. Como se o fato de, implicasse em... Aquela velha história: o que criticamos nos outros, quase sempre tá mais perto da gente do que supomos.
Porque, naturalmente, o fato de as pessoas estarem vestindo vermelho não significa que sejam comunistas. A bem da verdade, nem poderia ser indicativo de voto. Às vezes, ela só tava indo pruma gira de esquerda. Ou quem sabe apenas se protegendo contra o mau olhado. Ou, ainda, significa que ela tenha feito uma análise de coloração pessoal e descobriu que vermelho é sua cor da sua vida!
Do mesmo modo, verde e amarelo não são propriedades nem símbolos exclusivos de uma determinada corrente política. Algumas pessoas até juram que sim, mas não são. Pelo menos, não sempre. Me lembro de ter ido à rua 25 de Março —um centro nervoso do comércio paulistano, meca de boas ofertas e toda sorte de produtos, entre roupas, utensílios e quinquilharias em geral. Além do fervilhamento habitual, a rua tava repleta de verde e amarelo. Pensei: nossa, que loucura. Tava achando que o pleito tava equilibrado e, na real, tô achando que tem vantagem pro outro lado.
Comentei com amigos, que me ajudaram a voltar pra realidade: "É pra Copa, Fabi! É pra Copa." Hm... Não era sobre política isso aqui, deixa eu voltar.
Enfim, nesse olhar mais detido, o que bem notei foi que cada vez mais as pessoas se vestem com cores neutras, com fortíssima predominância da cor preta. Fiquei me perguntando as razões por trás disso. Nos tornamos um país de gente clássica e discreta? Alguém pode se aventurar a falar que eu tava de rolê pelos Jardins. Não, anjos, ando por todo canto e em todos os meios de transporte possíveis. Não só em automóveis de passeio, mas muito de metrozera e buzera. Além disso, amo andar a pé e de olhos bem abertos.
No último sábado, participei como convidada do Dia da Beleza Indígena. Fiquei maravilhada pela profusão de cores, formas e texturas. As pinturas do rosto de diferentes tribos apresentavam diferentes motivos. Cabelos com acessórios diversos, que se misturavam aos fios numa espécie de dança mágica. Uma verdadeira comunhão entre ser humano, natureza, tradição e ancestralidade pujantemente entregues.
Fiquei pensando na gente. Roupinhas beges, pretas, brancas... Muitas vezes em formas simples ou "corretas", sem grandes provocações dos sentidos. Não tô descendo a lenha, não. Tô só pensando mesmo... Nossas makes, então, nem se fala. Tudo bem certinho, harmonizado. Sempre aqueles mesmos itens aplicados, quase sempre do mesmo modo. Sem grandes diferenças perceptivas, sem riscos.
A gente ficou sem graça? Ou a cultura nos levou a isso? Qual cultura, afinal? E por quê? Bem, há sempre a possibilidade desse meu recorte sudestino estar contaminado. O que me contam das bandas por onde andam?
Cola no Instagram pra me contar: @fabi.gomes
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