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Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Iniciativa de Marta Suplicy une mulheres para debater democracia e eleições

Marta Suplicy criou o projeto Mulheres Juntas pela Democracia - Lucas Lima/UOL
Marta Suplicy criou o projeto Mulheres Juntas pela Democracia Imagem: Lucas Lima/UOL

Colunista do UOL

27/01/2022 04h00

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Talvez você não saiba, mas a maior parte dos direitos das mulheres, aqueles previstos em lei, são fruto da organização social das próprias mulheres. No livro "Breve História do Feminismo no Brasil e Outros Ensaios" (ed. Alameda), Amelinha Teles nos leva ao passado e nos conta, por exemplo, da mobilização de mulheres operárias por melhores condições de trabalho e pelas creches públicas, além de outros episódios de lutas e suas conquistas.

A Lei Maria da Penha seja talvez o exemplo mais conhecido da potência que há quando mulheres de unem em prol umas das outras.
Após a condenação do Estado brasileiro na Comissão Interamericana de Direitos Humanos por causa das violências institucionais contra Maria da Penha, foi criado um consórcio de mulheres composto por organizações da sociedade civil e juristas e ativistas autônomas para redigirem o primeiro rascunho da lei, a mais conhecida pelas brasileiras atualmente.

Justamente por saber que várias de nós, juntas, podemos fazer história e construir presentes e futuros melhores, fiquei extremamente contente em ter sido convidada para compor a iniciativa Mulheres juntas pela Democracia, liderada pela ex-senadora Marta Suplicy, atualmente secretária de Relações Internacionais na Prefeitura de São Paulo, e sem filiação partidária.

O projeto soma 35 nomes femininos de diversas áreas de conhecimento e trabalho para que, juntas, se debrucem sobre o seguinte desafio: criar propostas de políticas públicas voltadas para mulheres com o objetivo de incidir e influenciar as candidaturas presidenciáveis nas eleições de 2022.

Infelizmente, nós estamos em estado de abandono e esquecimento pelo governo federal de Jair Bolsonaro (PL). Ao passo que 96% dos postos formais de trabalho encerrados em 2020 eram ocupados por mulheres, nenhuma iniciativa abrangente e eficaz foi implementada para elas com o objetivo de fomentar a renda e a retomada do emprego.

O programa Bolsa Família, cujos pagamentos eram sempre feitos em nome das mulheres que chefiam famílias, foi extinto. Os índices de violência doméstica explodiram, com aumento significativo de feminicídios, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Norte.

Vimos, também, aumento da violência política baseada no gênero, com dados produzidos pela Monitora nas eleições municipais de 2020. Vimos nossas representantes eleitas serem alvo de machismo e misoginia, seja na CPI da Covid, seja no dia a dia de suas atividades, sendo chamados de "portadoras de vagina" pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

É evidente que o atual presidente do Brasil abandonou todas os brasileiros, e quem se eleger ao cargo terá um imenso desafio pela frente. Entretanto, não é possível pensar em manter e fortalecer a democracia sem que as políticas públicas considerem os marcadores sociais da diferença que estão presentes nas pessoas mais prejudicadas pela fragilidade democrática.

As mulheres, em especial as mulheres negras e de povos originários, são essas pessoas, e nossa existência e especificidades precisam ser considerada, respeitada e enaltecida. Políticas públicas do século 21 que não sejam interseccionais e com foco em construção da equidade social não serão efetivas.

Na próxima coluna, falarei sobre as propostas que apresentarei no primeiro encontro das Mulheres Juntas pela Democracia e os principais pontos debatidos.

É hora de pensar no Brasil que queremos para todas nós e construirmos esse projeto coletivamente, com respeito às divergências democráticas que são essenciais para a inovação. Vamos juntas?