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Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Presidente da Caixa é mais um exemplo de um governo que odeia mulheres

Colunista do UOL

30/06/2022 04h00

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Veio a público, nesta terça-feira (28), um novo escândalo envolvendo o governo de Jair Bolsonaro. Pelo menos cinco servidoras públicas que trabalham na Caixa Econômica Federal denunciaram os comportamentos de Pedro Duarte Guimarães, presidente do banco, por más condutas sexuais.

A história foi revelada pelo jornal "Metrópoles" na terça-feira (28). A apuração do Ministério Público Federal sobre o caso corre em sigilo, por isso, não é possível ter acesso a todos os relatos e às provas que os corroboram. Mas as falas das denunciantes que concordaram em conversar, sob anonimato, com o portal, nos ajudam a compreender o modus operandi do acusado.

É evidente que a apenas uma condenação penal determinará se ele será ou não punido. E apenas uma investigação, prévia à condenação, conseguirá delimitar se houve cometimento de crime, e quais crimes seriam. Entretanto, pelos relatos das denunciantes, tudo indica que elas foram alvo, pelo menos, de dois: importunação sexual e assédio sexual, previstos, respectivamente, nos artigos 215-A e 216 do Código Penal.

Para além das condutas de más condutas sexuais relatadas, o presidente da Caixa já foi processado "por constranger os subordinados indevidamente", devido ao fato de ter ordenado que alguns servidores fizessem flexões em um evento público do banco. Parece haver uma fixação bolsonarista pela prática desse exercício como demonstração de força. Que coisa mais esquisita.

Ao ler os relatos das denunciantes meu cérebro automaticamente me remeteu ao caso de Harvey Weinstein, ex-produtor de filmes em Hollywood, predador sexual condenado a 23 anos de prisão nos Estados Unidos.

Assim como Weinstein, as mulheres que se apresentam como vítimas de Guimarães relatam que ele usava hotéis como uma das principais locações de suas práticas indevidas. Ele e sua equipe estavam nesses hotéis por causa de viagens pelo Brasil para propagandear sua gestão, as quais, entretanto, costumavam ocorrer aos fins de semana.

Além disso, de acordo com os relatos, do mesmo modo que o ex-produtor de Hollywood, Guimarães amplamente abusava da sua posição de poder e da influência sobre as carreiras de suas subordinadas para violentá-las e/ou constrangê-las. Uma negativa implicava em pioria das chances de ascensão profissional, ao passo que havia promessas de melhorias nos casos em que a mulher não visse outra saída a não ser ceder à coação contra suas próprias vontades. Isso, essencialmente, é a definição legal do crime de assédio sexual.

E não se engane, cara leitora ou caro leitor, caso você esteja pensando que elas entenderam errado ou que ele estava apenas sendo cordial e gentil com sua equipe. Não havia nada de velado, de acordo com os relatos, nas práticas desse homem.

As denunciantes contam que ele costumava: passar a mão em seios, cinturas e nádegas; selecionar servidoras da Caixa que lhes chamavam a atenção nas cidades que visitava para trabalharem com ele na sede do banco em Brasília; convidar funcionárias subordinadas a ele para sessões privadas de sauna e piscina; contar com apoio de outras pessoas para fazerem perguntas como "e se o presidente quiser transar com você?"; exigir que as servidoras realizassem trabalhos de cuidado para ele, como compra de remédios que deveriam ser entregues, por elas, tarde da noite, no quarto de hotel dele; abrir a porta do quarto de cueca e propor uma micareta privada com todo mundo, ocasião em que ele disse a uma servidora que iria rasgá-la e fazê-la sangrar.

Todas as relatantes são unânimes em dizer que sentem medo e pânico desse homem, que sofrem com crises de ansiedade só em pensar em trabalhar com ele, especialmente em viagens, e que não confiam no canal de denúncia da Caixa, pois conhecem casos de vazamento interno para Guimarães de uma denúncia de assédio feita por uma servidora.

Que Guimarães siga afastado do seu cargo que a Caixa seja rígida na investigação sobre o caso, além de ter firmeza na auditoria em sua corregedoria a fim de identificar quais casos foram vazados e por quem.

É extremamente lamentável os danos que essa gestão bolsonarista causou às vidas dessas servidoras, as quais continuarão a trabalhar na Caixa após o fim da presidência do acusado, bem como à instituição, um dos mais importantes bancos públicos. Desmoralizar instituições para depois dizer que a única saída é privatizar é arroz com feijão nesse governo, aliás.

Expresso minha solidariedade a todas essas mulheres, às que denunciaram e às que ainda estão com medo de falar. Aproveito, também, para reforçar a importância do funcionamento ético, acolhedor e ágil dos canais de denúncia internos de empresas e organizações, pois é estarrecedor ler que havia vazamentos. Esse tipo de prática apenas aumenta o risco à integridade física e psíquica das vítimas e desestimula novos reportes de violações. Ou seja, só beneficia quem viola, nunca quem é violada.