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Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro se comporta com mulheres brasileiras tal qual um marido agressor

Bolsonaro em evento com eleitoras no sábado (3), em Novo Hamburgo (RS) - Diego Vara/Reuters
Bolsonaro em evento com eleitoras no sábado (3), em Novo Hamburgo (RS) Imagem: Diego Vara/Reuters

Colunista do UOL

08/09/2022 04h00

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Jair Bolsonaro (PL) se comporta com as mulheres brasileiras de forma idêntica a um marido agressor. Ele não te trata bem, te ofende, te agride do nada, você nunca sabe qual reação ele vai ter mas, quando precisa de você, faz carinha de santo e promete que mudou, que se importa com você, que nunca mais vai te tratar mal. O ciclo clássico da violência contra a mulher.

Fomos educadas para acreditar que temos o poder de mudar os homens. Antes tivéssemos, seria um superpoder. Já imaginou se pudéssemos, apenas em uma conversa, conseguir que o marido dividisse igualmente as tarefas da casa? Que ele, espontaneamente, agendasse o pediatra da criança ou que elaborasse a agenda da rotina dos filhos?

Entretanto, esse superpoder não existe. E esse papo de que é a mulher que conserta o homem só serve para uma coisa: tirar do homem a responsabilidade pelo que faz ou deixa de fazer. Se o sujeito não é um bom pai, a culpa é da mãe que não deixa ele se envolver; se ele não faz a própria higiene, a culpa é da esposa que não cuida com atenção do seu marido e assim por diante; se ele pega seu dinheiro sem sua autorização, você que é mesquinha de achar ruim.

Agora, depois de três anos e nove meses como o presidente que mais odiou mulheres desde que pudemos voltar a votar em presidentes, Jair vem piscar os olhinhos para tentar te convencer de que quando ele xinga uma jornalista, a culpa é dela; quando chama a única filha mulher de fraquejada, foi apenas uma fala sem querer; quando realizou o menor investimento em políticas para mulheres, ele, na verdade, estava fazendo o que podia e que você que quer coisa demais.

O Jair, minha querida leitora, além de ter te ofendido, te xingado, te humilhado e feito você se sentir mal desde que ele se sentou na cadeira da Presidência, também deixou você mais pobre. É igualzinho àquele clássico homem mentiroso que usa seu cartão e não te paga ou que pega seu CPF para fazer compras sem sua autorização, deixando você com o nome sujo por aí. Quem nunca esbarrou com um "picolé de limão" (um agradecimento especial ao podcast Não Inviabilize) desses na vida, não é?

Você sabia que, por exemplo, de acordo com a Relação Anual de Informações Sociais, das 480 mil vagas de empregos fechadas em 2020, 96% delas era ocupadas por mulheres? Que, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplica), em março de 2021, a presença feminina no mercado de trabalho brasileiro era igual a de 1991? Que 80% das mulheres brasileiras estão endividadas e que 31% delas estão, atualmente, com alguma dívida ou conta atrasada, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional do Comércio? Que quase metade das mulheres que perderam o emprego em 2020 eram vítimas de violência doméstica, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública? E, enquanto muitas mulheres não sabem como vão pagar seu aluguel, Bolsonaro e seus filhos comparam 51 imóveis em dinheiro vivo.

Faltando menos de um mês para o primeiro turno das eleições, Jair tenta vestir a máscara de que ele gosta das mulheres. Mas o ódio dele contra nós é tão evidente que não consegue escondê-lo nem quando precisa de nós. Ele gritou e humilhou uma jornalista em pleno debate eleitoral na frente do Brasil inteiro e ainda teve a cara de pau de dizer, também na frente do Brasil inteiro, que ele não a tratou mal, que ela que que viu coisas.

Desde que Jair foi eleito, a vida das mulheres só piorou. Ganhamos menos dinheiro, perdemos empregos e sofremos mais violência em casa e nas ruas. Agora, ele ainda tem a pachorra de esperar ter a confiança da nossa escolha. É muita audácia e é chamar as mulheres brasileiras de otárias.

Jair, somos infinitamente mais espertas do que você jamais vai ser. Sabemos reconhecer um homem desonesto e aproveitador de longe porque isso, infelizmente, não é novidade para nós. Sabemos escolher sozinhas em quem votar e não vamos votar em você a mando de ninguém. Lembre-se, leitora, você estará sozinha na urna, sem marido, sem pai, sem líder religioso e sem chefe. É só você com você mesma e lá dentro você pode fazer o que você quiser. E tenho certeza de que o que você quer é ser feliz e bem cuidada.