Topo

Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que explica 70% das pessoas ainda não saberem em quem votar pra deputado?

Divulgação/ Roberto Jayme/TSE
Imagem: Divulgação/ Roberto Jayme/TSE

Colunista do UOL

22/09/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Estamos a dez dias das eleições nacionais, na quais votaremos para preencher assembleias estaduais, Câmara dos Deputados, Senado, governos estaduais e Presidência da República. Ao todo, cada eleitora e eleitor deverá votar em 5 candidaturas, cada uma para um desses cargos.

Segundo pesquisa do Instituto Datafolha de 16 de setembro, 70% do eleitorado ainda não definiu seus votos para deputada ou deputado federal, um dado que pode ser explicado por alguns fatores. O primeiro deles é o gigantesco holofote que é lançado nas eleições para presidente, que acaba ocupando um grande espaço no debate público e oculta as conversas sobre o Legislativo.

O segundo fator, na minha percepção, é a falta de proximidade e conexão da Câmara com a população. Infelizmente, a maior parte das pessoas que ocupam as cadeiras de congressistas no país são ricas, vindas de famílias políticas e percebem a atividade parlamentar com uma carreira profissional e não como uma atividade de serviço ao povo brasileiro.

Essa desconexão causa o terceiro fator que explica por que ainda não sabemos em quem votar para a Câmara dos Deputados: a desconfiança e o descrédito que o Congresso Nacional tem perante a população. E, sinceramente, o povo não está errado em não confiar e ter imagens ruins de quem é deputado.

O que vimos, na maior parte da história do Brasil, é um Congresso que usa e abusa do poder e do dinheiro público para defesa de seus interesses pessoais e não dos interesses coletivos, como deveria ser.

Entretanto, a gente gostando ou não dos políticos, fato é que o poder Legislativo é fundamental para a democracia tal qual a conhecemos, porque é o Congresso que vai fiscalizar e controlar o Poder Executivo, por exemplo, nos protegendo de termos um governo autoritário no qual só as ordens presidenciais valeriam.

Na ditadura militar, por exemplo, o Congresso foi fechado e a corrupção no Executivo aumentou de forma inédita no país, uma vez que ninguém fiscalizava esse segundo.

Por isso, leitoras e leitores queridos, é essencial que divulguemos o que faz uma deputada ou um deputado. Você sabia, por exemplo, que foi o Congresso que se aprovou a reforma da previdência e a reforma trabalhista que causaram, juntas, muitos prejuízos à classe trabalhadora do país? E que foi lá que se aprovou o auxílio emergencial de R$ 600 enquanto o presidente Jair Bolsonaro queria pagar apenas R$ 200?

As decisões que o Legislativo vai tomar, se mais ou menos benéficas ao povo, dependem de quem ocupa as 513 cadeiras da Câmara Federal, e são os nossos votos que vão decidir quem tem o direito de estar sentado nelas.

Já é de conhecimento público, por exemplo, que Jair Bolsonaro não é investigado pela Câmara porque libera dinheiro para deputados e deputadas do centrão pelo chamado Orçamento Secreto. Resumindo, o atual ocupante da Presidência comprou a conivência de alguns congressistas, que deveriam monitorá-lo.

Se alguém compra algo é porque do outro lado tem quem está disposto a vender. No caso, o centrão esteve e está disposto a vender sua omissão em troca do dinheiro do Orçamento Secreto, deixando assim de investigar o presidente. Esse é uma forma de relação Executivo-Legislativo que só beneficia o presidente e esses deputados e que prejudica as demais pessoais do país, especialmente as mais pobres.

Portanto, se você não quer um Congresso que esteja à venda para os interesses da vez e quer ver as promessas do seu candidato à Presidência saírem do papel, já que boa parte delas depende de aprovação do Congresso, recomendo que dedique um tempo nesse último final de semana antes das eleições para escolher uma candidatura que seja ética, séria e verdadeiramente preocupada com a sua vida e com a vida de todas as pessoas do país.

Há séculos os espaços públicos de poder são ocupados, em esmagadora maioria, por homens brancos, ricos, cisgênero e heterossexuais. E vamos combinar que não deu bom, né? Tem muita gente com fome, muita gente na miséria, muita mulher apanhando em casa, muitas pessoas negras sofrendo racismo. E assim por diante.

Por conta disso, me permito te dar um conselho: busque destinar seus votos a mulheres, pessoas negras, pessoas LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência que sejam comprometidas com a melhora de nossas vidas. Não basta ser mulher ou ser negro, claro, é preciso ser uma mulher antimachista e pró igualdade e um pessoa negra comprometida com direitos humanos. Mas eu te garanto que não faltam candidaturas assim. Abra seu coração e sua cabeça para partidos e pessoas nos quais você nunca votou. Quem sabe assim o que está ruim não fica bom?