Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Não se espantem se em 4 anos Thiago Brennand for eleito a um cargo político
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Desde 2016 atuo como ativista feminista, e uma das minhas principais atividades nesse campo, atualmente, é difundir informações sobre direitos. Muitas vezes, essa tarefa é realizada a partir de análises de casos concretos de violências cometidas contra mulheres, pessoas negras e LGBTQIA+.
Falar desses casos exige muito cuidado porque violência não é espetáculo, é problema e deve ser enfrentado a partir de uma perspectiva de resolução e reparação. Ao se falar, por exemplo, da violência institucional cometida contra uma vítima de estupro não é necessário tratar graficamente dos atos violentos que foram cometidos contra essa mulher. É preciso ter sempre a vítima no centro das respostas que oferecemos.
Um exemplo excepcional de como tratar violência sexual de uma forma que não retraumatize nem forneça material de inspiração para estupradores é a série "Inacreditável", da Netflix. É a história real de denúncia e investigação contra um estuprador em série nos Estados Unidos e não contém absolutamente nenhuma cena de estupro.
Mas, para além desse cuidado, o seriado não forneceu, em momento algum, qualquer elemento de identificação e admiração para com o estuprador serial que é o alvo das investigações policiais.
Cito a série para dizer que a imprensa brasileira tem falhado na cobertura de casos de violência. Parece haver zero preocupação com o impacto causado nas vítimas a partir da exposição de cenas e notícias.
É preciso, por exemplo, exibir as cenas de Thiago Brennand batendo em uma mulher em uma academia? Ou então esmiuçar o vídeo gravado por ele dizendo que as várias acusações são falsas e ele está sendo perseguido?
Acredito que não. Primeiro porque todas as mulheres que apanham ou já apanharam apenas por serem mulheres sentiram de volta todo o medo que experimentam como vítimas.
Segundo porque, a gente gostando ou não ou acreditando ou não, há vários extremistas que se identificam com essa conduta de Brennand. Ou então da professora que fez um gesto nazista em sala de aula.
Essas pessoas se sentirão autorizados a imitá-los, afinal, agora contam com conteúdo gráfico de como operar um ato de violência.
Os extremistas que estão na encolha aproveitam a exposição de atos de violência para alavancarem a pauta da destruição para o centro da conversa.
E o que tem acontecido com extremistas cujos atos de violência são amplamente exibidos pela imprensa e pelas redes sociais? Eles têm virado políticos.
Homens ganham notoriedade às custas de serem violentos porque contaram com atuação complacente de veículos que deveriam ser mais contundentes em classificar e repudiar as violências. Mas, ao invés disso, estão oferecendo exibição nacional gratuita de imagens dos atos grotescos que esses indivíduos cometem.
Um exemplo recente disso é o do ex-jogador de vôlei Mauricio Souza. Suas falas homofóbicas por causa de um desenho em quadrinhos foram replicadas à exaustão em jornais, portais de notícias e páginas em redes sociais. Ele se transformou em um mártir dos extremistas e foi eleito deputado federal por Minas Gerais neste ano, com mais de 83 mil votos.
Acredito que se, nesse caso, a imprensa tivesse apenas informado ao público que o jogador cometeu crime de homofobia e que, por causa dessa violação aos direitos humanos, teve seu contrato rescindido com o clube no qual jogava, teríamos chances maiores de que ele tivesse caído no esquecimento. Em vez disso, ele, agora, tem acesso a boa parcela do orçamento público federal pelos próximos quatro anos.
Já passou da hora de a imprensa e dos produtores de conteúdo terem uma postura mais responsável de resposta à violência, pois a nossa estrutura social ainda é baseada em pilares da discriminação, como o racismo, o machismo e a LGBTfobia. Exibir as práticas de violência apenas fortalece essa estrutura e os intolerantes que desejam a morte e o extermínio de todas as pessoas que enfrentam a desigualdade.
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