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Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Michelle e Damares pressionaram venezuelanas: faltou vergonha na cara

Colunista de Universa

20/10/2022 04h00

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Acredito que não seja necessário recapitular aqui o episódio em que o presidente Jair Bolsonaro diz que encontrou meninas entre 14 e 15 anos e que "pintou um clima". Quero falar de outra coisa, do roteiro clássico do homem público que tem as suas próprias más condutas sexuais expostas publicamente. Agindo como um golpista contumaz que não consegue parar de mentir, ele mobilizou suas engrenagens internas e externas para tentar dar nó em pingo d'água e convencer os brasileiros e brasileiras de que "pintou um clima" queria dizer tudo, menos que "pintou um clima"

Depois de toda a comoção negativa, Jair acionou a esposa, Michelle, que foi atrás das meninas e mulheres que estavam na casa em que Bolsonaro pediu para entrar depois de se interessar sexualmente pelas adolescentes. Claro, assim o fez ao lado de sua parceira de projeto político, Damares Alves, a espalhadora de lendas urbanas abjetas.

Michelle e Damares fizeram dois pedidos para as meninas e mulheres ofendidas por Bolsonaro: um compromisso de silêncio sobre o caso e a gravação de um vídeo de apoio à campanha de Jair. Ambas as solicitações são exemplos do que tecnicamente chamamos de revitimização. Todas as iniciativas de enfrentamento à violência sexual fazem um trabalho central de encorajar as vítimas a romperem com o silêncio, pois os abusadores sexuais precisam que as vítimas se calem para que eles possam continuar com suas carreiras de predadores.

Era praxe no mundo corporativo antes do movimento Me Too, por exemplo, que denúncias de assédio sexual no escritório fossem tratadas com pagamento de algum valor para a vítima mediante a assinatura de um termo de confidencialidade, ou seja, de silêncio sobre a violência da qual foi alvo.

Sem qualquer vergonha na cara, Michelle, Damares e Jair não acharam que tinham violentado o bastante essas meninas e mulheres e tiveram a cara de pau de pedir para elas, vulneráveis e com medo, inclusive com medo de serem expulsas do país, já que são imigrantes, gravarem um vídeo de apoio a ele. Classifico essa conduta como uma chantagem, já que essas pessoas têm o poder de prejudicar ou de melhorar a vida dessas vítimas e, portanto, elas não teriam margem de escolher livremente se gravariam ou não esse vídeo.

Jair e seu clã trataram essas meninas e mulheres, desde o início, como objetos. Primeiro, como objetos sexuais e, depois, como objetos políticos. Entretanto, a empreitada foi muito malsucedida, pois elas se negaram a essa tal gravação.

Na minha opinião, o presidente se comportou como um abusador sexual de menores. Tenham em mente que o abuso sexual não precisa de toque para acontecer, pode ser uma frase. E condutas de caráter sexual praticadas por adultos em relação a menores de 18 anos são, além de crime, sempre antiéticas e imorais.