Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Brancos prosperam às custas da população negra e ainda são contra cotas
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Na quarta-feira, 21 de março, Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, o governo federal, por meio do Ministério da Igualdade Racial representado pela ministra Anielle Franco, anunciou medidas como a reserva de 30% dos cargos dos cargos comissionados e de confiança para pessoas pretas e pardas dentro do próprio governo.
Ainda tem muita gente que não entende a necessidade das cotas ou que, mesmo sem entender, seja contra essa medida por avaliar que seria um benefício para um grupo social em detrimento de outro. O que quero trazer para reflexão é quanto, na verdade, a prosperidade coletiva das pessoas brancas ocorre em detrimento da prosperidade negra.
Podemos afirmar que o racismo aterrissa no Brasil com a chegada dos portugueses e finca suas raízes com a escravização. Não nos esqueçamos que a escravização da população negra e indígena era prevista por lei e, portanto, não era considerada ilegal, assim como o tráfico de pessoas escravizadas era plenamente lícito e fez fortunas que sustentam herdeiros até hoje. Se você quer saber mais sobre isso, recomendo o podcast Projeto Querino.
Evidentemente, deixar uma parte da população à margem de direitos por quase 400 anos causa consequências que não foram resolvidas nos 130 anos subsequentes à abolição. E esse cenário só piora quando analisamos como a população negra foi tratada depois do fim da escravização.
Essa maioria social foi proibida de ir à escola e à universidade, de ter propriedade e de acessar o mercado formal de trabalho. Isso explica por que, por exemplo, a maioria das trabalhadoras domésticas no Brasil ainda é negra, uma vez que suas ancestrais foram abandonadas pelo Estado e precisaram recorrer, contra sua vontade, a trabalhos informais de cuidado, como cuidadoras, lavadeiras, quituteiras e trabalhos de casa em geral.
Já os homens negros passaram a enfrentar a perseguição do braço armado do Estado na medida em que foram criminalizados como vadios por estarem nas ruas sem emprego. Mas por muito tempo foram proibidos de terem empregos, fato simplesmente ignorado. Deu-se, aí, o início do encarceramento em massa da população negra masculina.
Ao mesmo tempo, foram realizadas políticas oficiais para embranquecer o país, com incentivo de cotas para que a população pobre europeia viesse morar no país. Os meus ancestrais, portanto, vieram para cá com passagens pagas e a garantia de que teriam uma terra para explorar, acesso aos estudos e facilidade de acesso a crédito e insumos, como sementes, ferramentas e afins.
Para se aprofundar nesse tema, recomendo o texto Cotistas Desagradecidos, de Tau Golin. Conheci esse texto pela Sueli Carneiro no podcast Mano a Mano, do qual também recomendo a escuta.
Portanto, é preciso elucidar que o país tem, sim, responsabilidade em promover ações intencionais de melhoria da qualidade de vida e da presença de pessoas negras em cargos de poder porque, no passado, promoveu ações intencionais de pioria da vida dessas pessoas e de propulsão da vida da coletividade branca.
Garantir a presença de pelo menos 30% de pessoas negras nos cargos de confiança é garantir que as demandas e necessidades dessa maioria social serão, finalmente, protagonistas nas conversas e iniciativas do Estado, além de garantir que a multiplicidade de identidades da sociedade brasileira esteja representada no governo. Isso fortalece a própria democracia nacional, a qual jamais será efetiva se for exercida apenas ou majoritariamente por pessoas brancas.
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