Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Condenação de Trump é sinal de que abusos sexuais não serão mais tolerados
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O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump foi condenado, na terça-feira (9), a indenizar em US$ 5 milhões (cerca de R$ 25 milhões) a escritora E. Jean Carroll por abuso sexual e difamação. Um breve resumo: a condenação foi na esfera civil e se deu após a denúncia de que ele a estuprou no provador de uma loja de roupas, onde se encontraram por acaso, na década de 1990, e por tê-la difamado, alegando que ela "não era seu tipo", quando Carroll, em 2019, contou publicamente o que aconteceu.
Não há como ele ser preso porque não há processo na esfera criminal —os crimes já prescreveram. Quanto a isso, tudo bem. Se você acompanha esta coluna, sabe da minha posição: prender não resolve nem as causas da cultura do estupro, muito menos os danos causados às vítimas. Obviamente, dinheiro nenhum apaga traumas, mas certamente tem um papel importante na reconstrução da vida de vítimas que precisam gastar seu patrimônio com tratamentos psicológicos e psiquiátricos, além de equipes jurídicas para defendê-las.
Essa condenação, por si só, me faz acreditar que estamos diante de mudanças muito significativas tanto na esfera jurídica como na esfera do comportamento quando o assunto são más condutas sexuais. Trump é o primeiro presidente a ser condenado por abuso, é poderoso, rico e já enfrentou acusações semelhantes no passado que não levaram a nenhum tipo de punição. Pelo contrário, foram ignoradas pelos eleitores que o escolheram presidente do país, em 2016.
Mas a notícia de agora mostra que nós, mulheres, estamos construindo, dia após dia, uma nova cultura de intolerância ao abuso e estamos impactando positivamente a sociedade como um todo. Isso tem se refletido nas decisões que responsabilizam acusados e condenados. Além, do caso de Trump, há outras vitórias.
Está em curso, por exemplo, o caso do jogador Daniel Alves, preso há 111 dias por acusação de estupro e sem perspectivas de ser solto —nesta semana, o Tribunal Superior de Justiça da Catalunha rejeitou mais um pedido de soltura feito pela defesa de Alves. Há também o caso Thiago Brennand, que foi extraditado para o Brasil para ser preso após diversas denúncias de violência contra mulheres. Na quarta-feira (10), tivemos também a notícia da condenação de Dudu Camargo em R$ 30 mil, a serem pagos em indenização para a cantora Simony, por importunação sexual durante uma transmissão ao vivo do Carnaval, em 2020.
Certamente, se as denúncias contra eles tivessem sido feitas há alguns anos, as vítimas não teriam encontrado apoio institucional nem social de hoje. No caso de Alves, foi o protocolo No Callem, criado e implementado por mulheres feministas, que garantiu que a vítima fosse imediatamente acolhida e bem tratada e que ele fosse detido no curso das investigações. No caso de Brennand, tecnologia de monitoramento por câmeras aliada à mudança cultural que estamos promovendo explicitaram para todo o país o tipo de homem que ele é.
Para além da esfera judicial, também estamos podendo ver a repercussão de nossos esforços de mudança até no entretenimento. Dois participantes do BBB 23, maior reality show do Brasil, foram expulsos do programa por má conduta sexual, perdendo a chance de ganhar R$ 2,5 milhões como prêmio e de firmarem contratos publicitários milionários. Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, foi demitido quando todas as denúncias de assédio emergiram contra ele.
É claro que ainda estamos longe, bem bem longe de termos uma vida em paz e sem violência. Mas, nós já conseguimos mudar a cultura do "em briga de marido e mulher não se mete a colher" para a criação de leis que impõem responsabilidades a síndicos de acionarem a polícia em caso de violência doméstica em condomínios. E, certamente, estamos fazendo o mesmo caminho no caso da violência sexual e demais ataques misóginos no espaço público contra mulheres.
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