Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Áudios de Robinho: estupradores sempre sabem que estupraram
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O UOL teve acesso exclusivo aos áudios das conversas telefônicas de Robinho gerados por meio das escutas da investigação, por estupro coletivo, da polícia italiana contra o ex-jogador. Esses áudios foram centrais para que ele fosse condenado a quase dez anos de prisão na Itália. Como já se sabe, o jogador voltou para o Brasil antes da condenação pela Justiça italiana e, agora, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) vai retomar o julgamento para decidir se ele cumprirá essa pena aqui.
As conversas do jogador com seus comparsas estão entre as coisas mais desumanas que já ouvi. E olha que, como mulher e advogada feminista, já li e ouvi muita coisa asquerosa e inacreditável. A partir daqui, me sinto no dever de informar: é possível que esse texto cause mal-estar ou desperte gatilhos.
Ao ser avisado por um amigo que a vítima havia denunciado todos os homens envolvidos, a primeira reação de Robinho foi de um riso debochado e logo em seguida ele já tira o corpo fora dizendo que "pau no cu deles" (os amigos também acusados) e que "tô fora". Tudo isso gargalhando na certeza da impunidade que só o machismo, a misoginia e o dinheiro trazem.
É nessa conversa também que ele diz que "a mina estava extremamente embriagada e não sabe nem quem eu sou". Ele evidentemente acredita que o fato de a mulher estar bêbada seria usado contra ela, mas, como sabemos, isso é um agravante em casos de violência sexual, já que as condições de consentir ou resistir estão prejudicadas. A vítima, inclusive, foi considerada vulnerável.
Nos áudios, sempre em tom de escárnio, os criminosos se referem à vítima como uma refeição que foi "rangada". Um objeto. Dizem que vão "dar um murro na cara dela". Para eles, ela não é nem uma pessoa, quem dirá merecedora de respeito. A única preocupação é de sofrerem danos se o caso sair na imprensa. Condenação? Isso nem passa pela cabeça. Robinho, inclusive, disse que devido à bondade de Deus ele não "rangou" a vítima.
Esses áudios revelam um aspecto que acredito ser fundamental destacarmos: agressores sabem o que fazem. Isso pode parecer óbvio à primeira vista. Entretanto, certamente não é. Os primeiros e mais duradouros sentimentos que pairam sobre vítimas de violência sexual são a autoculpa e a ansiedade difusa que as levam a se questionar se elas entenderam bem o que aconteceu, se não foi um engano ou um mal entendido. Ou ainda se a culpa não é delas por terem passado ao homem uma mensagem errada.
Acredito que a forma com que meninas são criadas é central para compreendermos esses sentimentos e as explicações que tentamos dar para situações sem sentido, como um estupro coletivo. Fomos ensinadas, desde pequenas, a sermos dóceis, contidas e a nunca, jamais, recorrermos à violência como saída para nada. Fomos também ensinadas ao silêncio, a não falar não e a não valorizar o que pensamos e sentimos.
Temos profunda dificuldade em entender como alguém tem coragem de fazer coisas como as que Robinho e seus amigos fizeram. Mas o que o que eles fizeram e como falaram da vítima depois de a estuprarem é o pradrão da masculinidade hegemônica, a qual, normalmente, é garantida aos homens brancos, mas que Robinho passou a acessar por ser milonário.
Esse caso pode ajudar outras vítimas que ainda estejam em dúvida ou se culpando pelo o que aconteceu. Estupradores sabem o que fazem e não vão medir esforços para, quando pegos, fazerem e falarem barbaridades que nem passam pelas cabeças daquelas criadas como mulheres.
Se vocês está passando por algo assim, saiba que tem minha solidariedade e apoio para reconhecer e legitimar sua dor e sua necessidade de reconhecimento e reparação. Eles sabem o que fazem e escolhem fazê-lo. Não tenha dó de fazê-los pagar.
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