Andressa Suita: milhões de likes curam um coração partido?

A quarentena, ou não-mais-quarentena, ou pandemia, ou tudo isso que está aí. Não sei mais como você quer chamar 2020, mas o fato é que o ano, a quase 40 dias de seu fim, tem trazido rompimentos diversos.

Um dos mais visíveis é o dos casamentos. Muita gente se separou: a gente vê pelos amigos e pelos famosos. O da vez é a modelo Andressa Suita, que acordou numa madrugada dessas com o marido, Gusttavo Lima, pedindo divórcio. Desde então, o choque foi seguido de inúmeras postagens no Instagram, um visual novo, mil looks. Natural: depois de sofrer o abandono, é natural procurar carinho e o dela, uma pessoa pública, vem em caminhões repletos de likes. Imagina você postar uma foto de trabalho e 547.545 pessoas (até o momento do fechamento desse texto) dizerem que você está linda? E ser justamente esse seu emprego?

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Acontece que a gente não é a Andressa Suita. Somos lindas de outro jeito, mas nunca recebemos esse feedback de 600 mil pessoas por post. Nossos rompimentos escancaram outros vazios. Andressa deve estar sentindo muita coisa também, mas tem seu jeito de superar. Além disso, trabalha com o corpo, literalmente ganha para ser bonita e, por isso, precisa das postagens.

A nossa realidade é diferente: rosto inchado de chorar, calças jeans que não abotoam mais, cabelo sem corte, sem tinta, sem brilho.

Quando dizemos que Andressa Suita está linda no Instagram, realmente achamos que isso basta? E se sim, e a gente, que nem isso tem?

Vi uns stories da modelo: ela dava maçã para o filho e fazia uma panqueca de banana com alguns produtos saudáveis de sua linha. Achei bonito o jeito que usou o fogão, sem fazer uma meleca. O comentário poderia ser: "cozinha bem, hein"! Ou: "que legal você dar frutas para seus filhos!" Ah, mas isso também fazemos. Ué, então também merecemos elogios.

Seguimos chamando Andressa de linda por dois motivos: 1. ela é linda. 2. a gente queria ser também. E, se buscássemos o mesmo orgulho e alegria em ser o que a gente é (rosto inchado, calça que não serve, mas uma panqueca bem feita e um fogão limpo), seríamos mais felizes. Mesmo sem meio milhão de likes.

Tem sempre alguma coisa que a gente pode fazer.

Estamos entrando na última "quarentena" do ano e nada vai mudar de uma hora para a outra daqui a 40 dias, quando der meia noite de 31 de dezembro. O lance é procurar o que é bom nesse caos todo — e não precisa ser o espelho.

A esperança morre, sim. Mas se a gente der uma cavucadinha, ela ressuscita.

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