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Luciana Bugni

Maisa reclama de homem assoviando para ela: mulher ficou chata com cantada?

Maisa pode sair com a roupa que quiser? Pode! Tem que ouvir galanteios? Não. - Reprodução/ Instagram
Maisa pode sair com a roupa que quiser? Pode! Tem que ouvir galanteios? Não. Imagem: Reprodução/ Instagram

Colunista do UOL

25/11/2020 04h00

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"Que ódio desses caras que assoviam para a gente na rua". A apresentadora e atriz Maisa desabafou em seu Twitter sobre algo que a gente conhece faz tempo. Você está andando na rua e o carro vai colando na calçada devagarinho. Dentro, geralmente um homem (ou vários) te olham com a cara que eu olho um queijo camembert assado coberto de mel: com vontade.

Aí, como se não fosse uma cena assustadora o bastante, eles buzinam para chamar sua atenção. Ou assoviam. Ou dizem o que eles acham que é elogio sobre partes de seu corpo, mas para você, que só estava andando até o horti-fruti, é no mínimo sem cabimento, e acaba soando ofensivo.

Ofensivo? Será que eu estou exagerando? Os comentários masculinos aqui embaixo certamente vão discordar. E nós mesmas, por muito tempo acreditamos que ser abordadas na rua por homens era um sinal de que tínhamos acertado na roupa, na academia ou sei lá no que mais. Que bobagem. Há alguns anos, desenvolvemos um entendimento importante:

Não precisamos mais do aval masculino para que a gente se sinta bonita

Aprendemos que não poderíamos nos sentir bonitas por nós mesmas, mas descobrimos que isso não fazia sentido. Para que eu me sinta bonita, basta que eu olhe no espelho e goste do que vejo. E se todo mundo discordar? Ah, aí é problema de quem discorda. E mais: estar ou não bonita não é mais uma preocupação recorrente. A gente sai na rua e pronto. Às vezes queremos estar bonitas. Às vezes queremos apenas comprar abacate. Às vezes nem na rua a gente sai — pandemia, sabe como é.

Então, quando, munidas desse entendimento, estamos caminhando de shorts, porque está calor, e um homem acintosamente cola o carro na sarjeta, e assovia com um olhar desejoso... é bem ruim.

Você já escolheu picanha no açougue? A mulher abordada na rua se sente assim: um pedaço de carne no açougue. Não é legal se sentir assim. "Ah, mas é o elogio", eles dizem. Como assim elogio? É um cara que nem me conhece. Ele está apenas cobiçando meu corpo — que não, não está disponível. Elogio é chamar de inteligente, é dizer que sou engraçada, é falar que eu escrevo bem. E, se eu der abertura, talvez falar de aparências — isso só lá na frente, estabelecida a intimidade e a confiança.

Outra questão importante, que talvez nem passe pela cabeça dos homens. Nós, mulheres, temos uma preocupação constante desde que nos entendemos por gente: a de ser estuprada. Andar na rua é sempre tenso. Andar na rua sozinha é uma sensação eterna de perigo. Se alguém para perto de mim e me olha com olhar de cobiça, a sensação de medo só piora. Não tem nada de sensual em perceber que alguém que você nunca viu na vida cobiça seu corpo, sendo que você não deu qualquer margem para que isso acontecesse.

Cantada e elogio é outra coisa. E é boa de receber. O resto é desrespeito.

Vai de shorts, Maisa. Fica à vontade. Moçada, parem de assoviar, buzinar e dizer barbaridades para as mulheres que passam na rua. Flertar é outra coisa, absolutamente diferente. Se vocês se esforçarem um pouquinho, certamente vão entender.

Se precisar, dou até umas dicas no Instagram.

PS: Perdão pelo excesso de metáforas com comida.Na pandemia, meu único rolê é ir no mercado mesmo...