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Maria Carolina Trevisan

Tentativa de golpe nos EUA coloca Bolsonaro no grupo dos perdedores

Manifestante favorável ao presidente Donald Trump fantasiado em invasão ao Congresso dos Estados Unidos - SAUL LOEB -06 jan. 2021/AFP
Manifestante favorável ao presidente Donald Trump fantasiado em invasão ao Congresso dos Estados Unidos Imagem: SAUL LOEB -06 jan. 2021/AFP

Colunista de Universa

07/01/2021 11h18

Os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro têm em comum o desprezo pela vida e pela democracia. Ambos têm falado sobre eleições fraudulentas e incitado apoiadores extremistas a investir contra as instituições. Ambos negam a gravidade da pandemia, que entre Brasil e Estados Unidos já vitimou mais de 560 mil pessoas. Os dois presidentes também desacreditam a imprensa, desrespeitam os movimentos negros de seus países e insuflam as polícias em favor de si mesmos.

A invasão ao Capitólio americano nesta quarta (6) deixou quatro pessoas mortas, estampou um legado de extremismo antidemocrático e mostrou ao mundo as intenções reais de Trump: para garantir sua permanência como presidente dos Estados Unidos vale inclusive um golpe.

Foi ele quem incentivou o ataque ao Congresso, atitude que vem se repetindo desde quando percebeu que movimentos em defesa da vida e da democracia ganharam força, em especial, o Black Lives Matter, nos atos antirracistas que tomaram o país.

Não por acaso, os golpistas que invadiram e vandalizaram o Capitólio são supremacistas brancos empunhando bandeiras pró-escravidão ou nazistas com camisetas que exaltam campos de concentração. É grave assim.

Líderes do mundo todo se opuseram à tentativa de golpe. Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel e ex-aliado de Trump, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o presidente da França, Emmanuel Macron, o presidente da Espanha, Pedro Sánchez, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro e de Cuba, Miguel Díaz-Canel, repudiaram a insurreição contra o Capitólio e a incitação de Trump.

Ao final da certificação de Joe Biden como vencedor das eleições presidenciais, cinco importantes assessores de Trump pediram demissão.

E Bolsonaro?

No Brasil, Bolsonaro silenciou. Fez uma declaração informal a apoiadores. "Acompanhei tudo. Você sabe que eu sou ligado ao Trump, né?", disse, em vídeo publicado nas redes sociais. Não perdeu, no entanto, a oportunidade de, assim como Trump, reafirmar fraudes nas eleições, antecipando atitudes que pode tomar caso perca o próximo pleito presidencial, em 2022.

"[Existe] Muita denúncia de fraude. Quando eu falo isso, a imprensa diz: 'Sem provas, presidente Bolsonaro diz que eleição foi fraudada'. Eu acredito que sim, eu acredito que foi [fraudada] descaradamente." É importante lembrar que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) esteve na Casa Branca nesta terça (5) com a filha, Geórgia, e a esposa, Heloísa, em visita a Ivanka Trump, filha do presidente americano.

Coube ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e aos ministros do STF Luís Roberto Barroso (também presidente do Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, demarcarem alguma posição oficial do Brasil. O Itamaraty até o momento não fez qualquer declaração.

O apoio de Bolsonaro a Trump neste momento crucial evidencia mais uma vez o pouco apreço à democracia que guarda o presidente brasileiro. Mais que isso, coloca o país no grupo dos perdedores, acossado por todas as superpotências mundiais como a China, os Estados Unidos e a União Europeia.

Dependendo de quem vencer a disputa pela presidência da Câmara em fevereiro, Bolsonaro estará mais sujeito a um processo de impeachment. É o custo de menosprezar a democracia.