Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Pronunciamento de Bolsonaro mostra desespero e sela ingovernabilidade
A tentativa de reverter a confiança no governo com um pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a favor da vacinação em massa contra a covid-19 funcionou ao contrário das expectativas do Planalto: em vez de gerar tranquilidade mostrou que o presidente está em desespero. Em sua curtíssima fala para o gravíssimo momento, Bolsonaro mentiu em cadeia nacional.
Desde o começo da pandemia, há um ano, Bolsonaro vem desdenhando do sofrimento gerado pelas vidas perdidas para a covid-19. Tem trabalhado a favor do coronavírus: estimula aglomerações (fez isso no último domingo), despreza protocolos básicos de proteção como o uso de máscara, promove medicamentos ineficazes, sonega oxigênio e boicota a compra de vacinas no país que tem um dos melhores planos de imunização do mundo.
Faz isso com a intenção de contentar os negacionistas que formam a sua base mais radical, mas que não passam de 15% dos eleitores. Bolsonaro ganhou popularidade quando foi obrigado a conceder o auxílio emergencial em 2020, mas foi incapaz de negociar um auxílio coerente com o momento dramático atual, que joga à condição de miséria milhões de brasileiros.
Tampouco trabalhou pelos empreendedores, micro e pequenas empresas. A presença de Paulo Guedes (Economia) já não é suficiente para manter a confiança de investidores, como mostrou a carta dos banqueiros e economistas, publicada no último domingo (21).
Nestes dois anos de governo Bolsonaro, o Brasil foi de pária mundial para ameaça global, como descreveu o colunista do UOL Jamil Chade. Somos, hoje, com mais de 3 mil mortos por dia, o epicentro da covid-19 no planeta. Uma tragédia humanitária para a qual Bolsonaro não tem empatia ou habilidade de reverter.
A retórica que tentou colar com o pronunciamento mentiroso a que se submeteu apenas reforça que Bolsonaro não tem mais condições de governabilidade. Perdeu a fiabilidade de quase todos os setores. Sobrou - ainda — o centrão, que cobrará dele um preço muito alto.
É um cenário parecido ao que antecedeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que no auge da crise também fez um pronunciamento em rede nacional, sem efeito prático.
Corrupção, STF e fator Lula
O discurso da anticorrupção deixou de fazer parte da imagem de Jair Bolsonaro e de seu governo. A pesquisa Datafolha desta segunda (22) mostra que para 67% da população há expectativa de mais corrupção, um recorde sob Bolsonaro.
Evidências mostradas na reportagem "Anatomia da rachadinha", esquema que envolve a família Bolsonaro praticado por anos nos gabinetes de Bolsonaro e dos filhos Flavio e Carlos ligam o presidente a investigações sobre peculato (roubo de dinheiro público), apropriação indébita, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Com a confirmação pelo STF (Supremo Tribunal Federal) de que o ex-presidente Lula teve um julgamento parcial, liderado pela ganância de poder do ex-juiz Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e ex-parceiro do presidente, o xadrez eleitoral ganhou pressão.
Com os direitos políticos recuperados, a presença de Lula exige mais qualidade, competência e posicionamento coerente dos adversários políticos. Tudo o que Bolsonaro não tem demonstrado.
A decisão do Supremo reforçou também que o direito à ampla defesa deve ser preservado até o limite por ser um dos bens mais caros à democracia. Mas Bolsonaro não tem apreço pela democracia.
Não há nada mais forte do que a realidade: o Brasil se aproxima das 300 mil vidas perdidas para o coronavírus, com 3.158 mortes em 24 horas. O luto solitário e contínuo imposto por este governo faz do Brasil um país à deriva, sem salva-vidas, cada vez mais triste e angustiado. E afasta o presidente da reeleição. Sobra o desespero.
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