Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Preta, Helô, Carol e Juliana: vocês são gigantes, quero roubar essa coragem
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Eu ia falar da Preta. Gil. Mudei de ideia quando vi a entrevista da Carol Portes para a Juliana Dal Piva. Por fim, recebi a notícia de que Heloísa Buarque de Hollanda era a mais nova imortal da Academia Brasileira de Letras. Em crise sobre quem escrever, percebi que estava diante do mesmo tema: mulheres gigantes, a quem gostaria de agradecer a existência - e roubar um pouco da coragem.
Começo por Preta, uma revolucionária sem cartilha, que foi transformando todos os lugares pelos quais passou. Seja posando nua em capa de disco, seja sentada na mesa de jantar, seja bancando sua sexualidade ou falando sobre a doença da qual se trata, Preta Gil age de forma política desde que me entendo por gente. Essa semana, em meio à forma desrespeitosa como sua separação vem sendo tratada por parte da imprensa, pediu paz.
Generosa, a cantora sempre ofereceu sua liberdade de forma tão espontânea que qualquer luta parecia Carnaval. Preta ri e muda o mundo. Respira e desorganiza o status quo. Age como quem dança, como se em seus movimentos não houvesse esforço algum. Mas há. Preta nos dá, há anos e de graça, injeções diárias de luz e autoestima. É hora de devolver.
Certa vez, me deu um telefonema. "Você pode ir embora, Maria. Não precisa ficar nessa história". Eu estava em um relacionamento difícil e me sentia culpada por querer sair dele. Preta, ao ver meu sofrimento, e mesmo não sendo tão próxima, não hesitou em me dirigir duas ou três palavras. Certeiras. Fiquei solteira no dia seguinte. Isso se chama feminismo, embora muita gente ainda tenha dificuldade em ver a doçura que habita no termo.
É também feminista a entrevista que Carol Portes concedeu essa semana a Juliana Dal Piva aqui no UOL. Não sei se o conteúdo seria tão forte caso o repórter fosse homem, acho que não. Provavelmente, não. A matéria, sobre assédios sexual e moral, fala de violências das quais, infelizmente, temos algum conhecimento. A vulnerabilidade e a verdade das falas de Carol me tiraram o sono e a escuta de Juliana me devolveu. Se alguém ainda tinha, ou tem, duvidas sobre o lado certo do caso Marcius Melhem, sugiro fortemente que assista ao material.
E agora Heloísa Buarque de Hollanda, a mulher que quero ser quando crescer, a voz que me aponta flechas desde "26 poetas Hoje", quando conheci Ana Cristina Cesar. Aos 83 anos, Helô foi eleita para a cadeira deixada pela também imensa Nélida Piñon, a primeira mulher a presidir a ABL.
Professora da UFRJ e feminista com orgulho - a ponto de agora atender também por Helô Teixeira, sobrenome de sua mãe - Heloísa deve levar, além de sua obra como escritora, a subversão que faz dela uma das intelectuais mais fascinantes que esse país já teve. Fico imaginando esse chá, com Helô falando do seu encantamento com a produção literária da periferia, e Gil, e Fernanda Montenegro, e Zuenir Ventura. Melhor que essa mesa, só incluindo Preta, Carol e Juliana.
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