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Maria Ribeiro

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vi o show dos Titãs em SP. Não é fácil encontrar a vida inteira num dia só

Colunista de Universa

20/06/2023 00h00

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Na mitologia grega, titãs foram gigantes que queriam chegar ao céu. Escalando. Para destronar Júpiter. Parece que rolava uma treta entre eles, mas nada a ver com a saída do Arnaldo. Ou do Nando. De acordo com o dicionário online de português, titãs também podem ser pessoas. Mas não pessoas normais, tipo eu e você. "Pessoas de características físicas ou morais extraordinárias." Como o Tony, por exemplo. Ou o Paulo.

Há ainda uma terceira opção para a palavra: guindaste. Mas aqui, de novo, não um guindaste comum, e sim um especial, diferente, "de grande potência". Um Branco Mello, digamos assim. Ah, e tá faltando a quarta, única que aparece com letra maiúscula, e que se refere a um satélite de Saturno, descoberto em 1655 por um astrônomo holandês. A este, dizem, só o Frommer teve acesso até agora.

Cheguei sexta-feira ao estádio do Palmeiras parecendo uma garota. Havia muito tempo não ia a um show assim. De jovem. Será que vai estar cheio? E se não der para ver? E o trânsito? E os acessos? E se eu ficar triste? Me angustiar? Ou, o contrário. E se for ótimo? E se eu dançar? Ficar feliz de vez? Se voltar a amar todos eles? Se renunciar a todo e qualquer cinismo?

Uma banda que existe há 40 anos. Um grupo de amigos de colégio que nunca desistiram uns dos outros. Minha infância, juventude, meus casamentos, minhas perdas, minhas faltas, nunca tinha juntado tudo, e de repente, numa noite de junho. Não é fácil encontrar com a sua vida inteira num dia só. A gente é ex da gente mesmo, e "Sonífera Ilha" é testemunha.

Eu não sou palmeirense, eu não moro em São Paulo, eu não vou a esses eventos. Tenho medo, preguiça, nem sei. Eu não me adapto, e nem vou.

O pulso coletivo de sexta-feira juntou o Paulo Miklos do "Invasor" e da luta política de 2018, o Arnaldo da poesia concreta e dos livros que coleciono apaixonada, o Tony da Malu e do Bellini, o Nando da Cássia e do Jorge Moreno, o Branco dos musicais infantis, e me apresentou Gavin e Sergio, os gigantes que menos conheço.

Às vezes, a vida cabe em um show. Em um estádio de futebol. Num setlist de 30 músicas. Às vezes, no meio do caminho, alguém morre. Ou fica doente. Ou separa. Ou briga. Ou perde um amor. Quase sempre, isso tudo, com o tempo, nos leva muito longe; e, às vezes, para nunca mais.

Mas não os Titãs. Os titãs são gigantes que chegaram ao céu escalando, e trouxeram de volta, para fazer uns shows e ver a filha, o amigo que agora mora lá. Eu vi.