Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mulheres fortes como Gal também podem cair em relações tóxicas. Eu já caí
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Foi no dia 9 de novembro de 2022. Dia em que completei 47 anos. Tomei café da manhã com meus filhos, recebi meia dúzia de parabéns, e de repente, a noticia: Gal Costa, uma das maiores cantoras do Brasil, morre aos 77 anos. Lembro exatamente da hora: 11h11. E de como aquele instante dividiu meu dia em dois. A data, a partir dali, não seria mais minha. Ou só minha. O certo a fazer era natural e evidente: mudar de idade ouvindo Gal Costa.
A morte, de alguma forma, não deixa de ser um segundo aniversário. Mais um dia para festejar existências, como a dela, que não cessam com o fim do corpo. Depois de passar pelo circuito de abrir todos os sites e ver dezenas de fotos e ler as homenagens do Caetano, do Gil e da Bethânia, fui tomada por uma certa revolta.
Como assim? Do nada? Mas ela estava doente? Desde quando? Tropicalistas morrem? Pode, isso? Cabe protesto? Como vai ser sem João Gilberto e, agora, sem ela? Podemos parar por aqui? E não deixar partir mais ninguém? Alguém anima essa manifestação comigo?
Passei algumas horas em suspenso. Recebendo mensagens de parabéns enquanto era tomada por um amor imenso. Assim como o Brasil inteiro, eu também era apaixonada pela Gal. É deste lugar, de devoção e gratidão, que venho falar sobre a matéria da revista "piauí". E dizer que além da reportagem de Thallys Braga ser de extrema relevância, porque falar de relações abusivas serve como alerta para quem não se enxerga nelas, há em seu texto histórias muito bonitas.
Para quem está por fora, um resumo. Na "piauí" de julho, há uma matéria sobre a viúva da cantora. Uma mulher que chamava a companheira de velha e gorda, que ameaçava seus funcionários e que supostamente aplicou golpes por onde passou. Além de prejudicar a carreira de uma das maiores artistas brasileiras, a afastou de vários dos seus amigos.
Nesse momento em que tanto falamos de feminismo e de cumplicidade entre mulheres, algumas coisas me chamam a atenção. A primeira é achar que só homens são abusivos, o que está longe de ser verdade. Infelizmente, já trabalhei com mulheres extremamente competitivas e violentas, e já tive ótimos chefes do sexo masculino —não todos, vale lembrar.
A segunda é acreditar que figuras fortes e vistas como "poderosas" não podem cair no redemoinho de parcerias tóxicas. E que, ao caírem, se tornam menos admiráveis por isso. Da minha parte, posso dizer que já estive nesse time. Por algum tempo. Foi mal aí.
Por último, as histórias bonitas. São muitas. Caetano, como sempre. Lúcia Veríssimo, que se emociona ao falar da casa em que viveram juntas. Marcus Preto. Kati Almeida Braga. E seu filho, Gabriel. Sobretudo, seu filho Gabriel. A quem desejo sorte, como na música que a cantora gravou com Caetano Veloso.
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