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Maria Ribeiro

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Talvez desaponte feministas, machistas e cinéfilos: me emocionei com Barbie

Colunista de Universa

25/07/2023 04h02

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Me preparo para escrever sobre a Barbie. Para dizer que me emocionei com o filme. Que o achei esperto, corajoso, transgressor. Que, sim, gosto de rosa. Que talvez desaponte feministas. E machistas. Homens, mulheres. Amigos de esquerda, cinéfilos, intelectuais, amigas radicalmente contra a boneca. E toda a gente que torce o nariz para tudo o que é pop. E que está na moda.

É claro que saí do cinema com questões. E que provavelmente fui muito oprimida por aquele corpo impossível. Treinei ser mulher com garotas loiras, magras e peitudas, um prato cheio para destruir a autoestima de 99% das meninas que, como eu, as usavam como projeto de futuro.

Se bobear, vale até processo. Cadê aquela casa prometida pela Mattel? E a conta do plástico? Do meio ambiente à falta de representatividade, Barbies são controversas de nascença. Até meus gatos podem ser contra o filme da Greta Gerwig. Embora, aqui em casa, esse nome seja sinônimo de amor profundo e verdadeiro.

Por outro lado, minhas bonecas podiam tudo. E se esse é um dos discursos da diretora e roteirista —junto com Noah Baumbach— para ser usado como mea culpa, aqui ele fez sentido. Fui protagonista da vida que teria quando fantasiava ser grande. Pensava em casar? Sim. Pensava em ter filhos? Também.

Mas lembro de, bem menina, projetar uma trajetória com duas bases muito firmes: amigas e trabalho. Ken ocupava uns 20% dos meus planos. Ao contrário do que minha mãe dizia, no meu 2023 de criança haveria vida fora do casamento.

Ryan Gosling, aliás, é um parágrafo à parte. Seu Ken é impagável e altamente político. Carros, cavalos, violão, filmes de máfia: será que estamos prontos, independentemente do gênero, para fazer e receber críticas contundentes com algum humor? Torço para que sim. Para que a gente não precise odiar uma cor com o objetivo de dizer, mais uma vez, que há, sim, muita violência no patriarcado. E da urgência de termos mulheres em cargos de poder.

Na hora de entregar o texto, abro o Instagram. "Élcio Queiroz faz delação premiada sobre caso Marielle Franco". Paro tudo e ligo a TV. Nada pode ser mais importante do que essa notícia. Saber quem é o mandante de um crime que tirou a vida de uma mulher, e de uma mulher eleita, é honrar as meninas que agora brincam de, quando adultas, lutar por um Brasil mais justo. E não morrer por causa disso.