Maria Ribeiro

Maria Ribeiro

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Larissa Manoela e violência de quem deveria protegê-la: grana é tipo crack

Nunca era o momento certo. A frase, roubada do último —e fraco— filme do Wes Anderson, segue comigo. Serve para o momento de romper com os pais, como foi o caso da atriz Larissa Manoela. Serve para ficar de bem com eles, como é atualmente o meu. Serve para agora, essa chance de sempre, que às vezes demora em ser depois. E que, spoiler meio apavorante, pode acabar virando nunca.

Também pode ser aplicada a quase todas as horas: de ter filho, casar, separar e até de encarar alguns reflexos. O que há para se ver, depois da coragem? Um general do Exército vendendo joias que não são suas? Uma polícia que mata crianças desarmadas? Amizades líquidas? Relações mentirosas? Está aberta a temporada do espelho, agostiners.

Tenha uma mãe no CTI e veja o que realmente importa. Taí. Se não for um livro de autoajuda, no mínimo é um bom filtro. Um manual prático de como não perder tempo com nada (e nem ninguém) que não funcione em via de mão dupla. Recomendo. Ou não, porque é vida adulta sem a parte boa.

Começo por Larissa Manoela. Que deu, no último domingo, no "Fantástico", importante entrevista sobre a violência patrimonial que sofreu dos pais. Larissa, para quem não sabe, é atriz. Excelente atriz. E ainda canta. E é linda. E fatura. Fatura alto.

Aos 22 anos, a estrela (acho o termo cafona, mas tudo para não repetir palavra) tomou coragem para encarar o espelho. Sua carreira, que começou quando ainda era criança, foi gerida por seus pais durante toda a sua vida. Acontece que os anos foram passando, e... Não era amor, era cilada. Mesmo vinda de pai e mãe. Segura na mão de Freud e vai.

Quanto tempo a gente leva para fazer o mesmo? Em amizades, casamentos e ex-casamentos? Traição, que nada. É o dinheiro o que mais separa pais e filhos, homens e mulheres, irmãos e amigos da vida inteira. Conheço muita gente, como Larissa, que já abriu mão de muitos bens para preservar qualquer sobra possível de afeto. Uma réstia de ilusão, uma blindagem ao rolo de câmera. Já pensou perder todas aquelas imagens do passado? Infância, viagens, partos, posts, declarações de aniversário, juras de fidelidade eterna?

É claro que dói mais quando a violência vem de genitores. De quem deveria, pela lei do óbvio, nos proteger. Mas grana é tipo crack. Difícil escapar, ainda que o CEP seja o da árvore genealógica.

Larissa não está sozinha. Britney Spears, Amy Winehouse, a lista é grande. Mas esse texto é sobre e para Larissa. Para dizer que existe vida pós sangue. Que nem tudo é sobrenome. Que coragem recompensa. E que há muitas famílias dentro da palavra família.

De minha parte, torço para que sua história termine bem. Ou, no mínimo, melhor. Que seus pais se deem conta de que perder uma filha que está ao alcance do telefone é o pior prejuízo que pode existir na vida. E, que, sendo essa de natureza finita, melhor não dormir no ponto.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.