Maria Ribeiro

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Opinião

Vitor, Yuri, Karina e Gilmar: quem é você no episódio de Copacabana?

Dois rapazes se conhecem em uma balada. Um deles, que mora em frente ao local, chama o outro pra conhecer sua casa. O clima entre eles é de encantamento. Chegando la, bebem, veem vídeos, conversam. O dono do apartamento, que na verdade racha o aluguel com uma amiga, abre um vinho. Que, logo sabemos, não é seu. Apreensivo, manda uma foto da garrafa pra sua "proprietária", devidamente acompanhado do date.

Ela responde, preocupada. Com o vinho. O rapaz, então, conta que o novo amigo é um ator famoso. Que tem um milhão de seguidores no Instagram. Também avisa que vai recompensá-la pelo "empréstimo". E que eles ficarão próximos de alguém importante. Uma celebridade.

A amiga chega. Como o parceiro de apartamento, ela também é médica. Estava de plantão. E, a despeito da fama do "intruso", não gosta do seu jeito, passando a tratá-lo de forma hostil. Acontece que o "intruso" havia sido convidado para estar ali. O clima pesa.

Mesmo assim, o par que havia se formado na madrugada pretende continuar se conhecendo. Tanto que o dono do apartamento sai pra treinar. E deixa o ator em sua sala. A outra moradora, que se chama Karina, não gosta, e manda mensagens pro amigo voltar imediatamente. Que o famoso é inconveniente.

O que se vê a seguir — e todas as cenas foram gravadas por câmeras de segurança — é um filme de horror. Com a volta do dono da casa, que se chama Yuri de Moura Alexandre, Victor Meyniel passa a ser agredido. Primeiro, ainda no corredor que dá acesso ao elevador, e depois na portaria, no chão — quando já está caído.

Tudo isso acontece diante de uma testemunha. O porteiro Gilmar. Que assiste, impassível, não a uma briga, mas a um espancamento. Que dura 37 segundos e soma 42 socos na cara. O motivo do ódio é justamente a presença do terceiro elemento. Segundo os vídeos — e tudo está no Fantástico do domingo — Victor teria perguntado a Yuri se ele escondia sua orientação sexual.

Foi quando o agressor virou quem realmente é: o pior do Brasil, país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. "Viadinho é você. Eu não sou."

De fato, Yuri. Você é um criminoso. Que agora responde por crime de lesão corporal, homofobia e falsidade ideológica. O porteiro será indiciado por omissão de socorro. Porque só depois de um tempo liga pro síndico, em vez de chamar o Samu. Porque não me meto na vida dos moradores, teria dito ele, ao depor.

Uma palavra contra a outra, diz o advogado de defesa do réu, que cumpre prisão preventiva. Será que tambem há outros vídeos que anulem aqueles? Câmeras contra câmeras?

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Tudo nessa história diz muito sobre o nosso país. O porteiro que serve aos moradores, não a sua própria humanidade. E não coloco aqui seu sobrenome porque sei da lógica dos condomínios, com síndicos abusivos e moradores classistas. Também dispenso os dados completos da médica, rezando pra nunca precisar ser atendida por ela.

Mas, em casos como esse, não vejo nenhum sentido na lógica de "vamos ouvir as duas partes". Há uma vítima e um agressor, além de dois personagens pra lá de questionáveis.

Só concordo com Yuri em uma coisa: Victor é mesmo importante e corajoso, e vale o empréstimo de várias garrafas de vinho. Ainda não nos conhecemos, mas agora sou mais uma em seu Instagram.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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