'Meu Nome é Gal' mostra que amizade é afeto revolucionário que muito nos dá
Fui ao cinema ver o filme da Gal. Cinema, filme e Gal são palavras do tipo "cama, mesa e banho"— sons tão bonitos que mal dá vontade de misturá-los a outros. A outras palavras. Eu poderia passar minha existência nesse dicionário. Aliás, já passo.
Sou fã da Sophie Charlotte, devota da voz de Maria da Graça e defensora apaixonada do trio tela grande, sala escura e pipoca. Costumo ser feliz nessa composição. Mesmo quando não sou. Quando a história não me pega tanto.
Não foi o caso. Há tempos que organizo minha vida em função de acompanhar os tropicalistas. Shows, documentários, discos, vou a tudo o que posso. Quando perguntam meus planos, sempre fico com vontade de dizer: ouvir, o máximo que puder, o Brasil da Bahia. É um projeto, sabe? Tanto quanto a maternidade. O amor. A vida profissional. Escolher de quem ser plateia.
Mas a Gal. A Gal da Sophie. Da Lo. Da Dandara que também é Bethânia. Que maravilha! O filme é um recorte do início da carreira da cantora. De sua vinda pro Rio e pra São Paulo, de seu desabrochar diante das câmeras, das consequências da Ditadura, mas, sobretudo, de uma amizade que nunca se perdeu.
Caetano, Dedé, Gil, Sandra, Guilherme Araujo, Bethânia, Macalé, Torquato, Rogério, Wally. Um puxando o outro. A prova concreta da poesia concreta que habita nas grandes amizades.
Tive a oportunidade de estar, certa vez, em um almoço na casa de Gil e Flora. A mesa era grande. Mas eu só conseguia prestar atenção na cumplicidade de Gil e Gal. Ou Jiló e Gaúcha, que era como se chamavam.
A gente fala muito das relações românticas. De como é bom gostar de alguém. E de como é duro se separar. Mas pouco leio a respeito da dor de amizades rompidas. E também do êxito de parcerias longas. Pra mim, Gal é um filme sobre amizade, esse afeto tão doce quanto revolucionário. E, que, no caso da música brasileira, tanto nos deu.
"A gente é foda", diz Caetano a Gal no hall do apartamento onde moravam, no centro de São Paulo, em uma cena que, pra mim, resume o espírito do longa. Os atores, a direção, a fotografia sensível de Pedro Sotero, a forca da doçura de Sophie, tudo nos leva pra um lugar onde o mundo é bom e tem parcerias firmes. Onde Gal e Caetano sempre cantarão "Coração Vagabundo". Onde a gente é foda.
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