As pessoas dos livros: só agora entendi o título do livro da Fernanda Young
As pessoas dos livros. Esse é o título de um livro da Fernanda. Young. Sempre achei o nome bom. Independentemente do significado. Que muitas vezes me pareceu simples. Tão simples que eu achava insuficiente. Mas agora acho que entendi. Ou, pelo menos, passei a assinar embaixo.
Passei o final de semana em Tiradentes (MG). Justamente com essas pessoas. Dos livros. Em um festival de letras. Primeiro, fiz uma mesa com o Antônio Prata. De quem, aliás, sou fã. O tema do encontro era exatamente esse aqui. Que agora vocês leem. Ou ouvem. Crônicas. Essa mistura de literatura com diário e jornalismo das "pequenas grandes banalidades" e que no fundo não é nenhuma das três coisas. Mas que, quase sempre, serve pra nos deixar, autores e leitores, um tanto mais leves e sensíveis aos cantos despercebidos da vida. Aos lugares que não aparecem nas fotos.
Mas as pessoas. Bom. Eram muitas. A maior parte vinda do Rio e de São Paulo pra falar de textos. Textos que saem da cabeça dessa gente, que, como eu, precisa dizer o que sente. Mostrar o que viu. Exibir os detalhes de uma visão de mundo que se dá exclusivamente em um cérebro atormentado. Ou em um coração com remendos. Um cachorro no palco, um curió numa gaiola, uma noite de chuva.
Como o cachorro ficou com o Prata (é só conferir no jornal de anteontem) e o Curió com o Rubem Braga, vou pra opção que me resta. A chuva. Éramos oito forasteiros em um cenário de Fellini. Em uma cidade dessas que dá vontade de não ter medo de nada. Chovia. Não tínhamos guarda-chuvas, não estávamos com os sapatos certos, não cabíamos nas mesas, não éramos todos íntimos, não achávamos táxis. Mas estávamos em Tiradentes, ora. A chuva era histórica, o encontro, idem, a gente que se virasse com as pedras escorregadias. Eram elas as donas da cena.
Fomos caminhar. A certa altura, olhando aquelas igrejas centenárias, meio bêbados e meio molhados, ouvindo as histórias de dois casamentos recém-desfeitos, falando como se fôssemos um grupo da vida inteira, pensei: é aqui.
Não sei aqui o que, não sei aqui onde, mas sei que um sino bateu.
Um sino alto e imponente, desses de acreditar em tudo. Até que chegou o táxi. Que dividi com Reinaldo Moraes. Quer dizer, dividi o carro, porque ele pagou a corrida. Que prometi devolver em chopes. Olha aí o sino.
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