Maria Ribeiro

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Ana Hickmann pode mudar o rumo de muitos casamentos ao compartilhar sua dor

"Pela Maria da Penha." Assim, citando a mulher que por 19 anos lutou pra provar as tentativas de feminicídio do próprio parceiro — e que hoje é nome de lei —, Ana Hickmann invade minhas redes. Em entrevista a Carolina Ferraz exibida no domingo na Record TV, a apresentadora fala pela primeira vez da agressão que sofreu do marido no início do mês.

O episódio, que veio a público recentemente, não surpreende. Alexandre Correa, que, pelas cenas que agora são recuperadas, nunca teve vergonha de suas falas preconceituosas, não é diferente de muitos homens que conhecemos. Homens que comemoram quando seus filhos são meninos e que muitas vezes dão o próprio nome àqueles que um dia precisarão lutar por sua individuação. Alteridade? Nunca. Estamos falando de uma paternidade narcisista. De um amor autorreferente, onde o outro é sempre coadjuvante — quando não, figuração.

Para além do barulho que o caso vem gerando na imprensa, há um exemplo importante. Uma mulher que sempre vendeu uma vida perfeita e que vem a público falar de violência doméstica. Que pode ser física ou não.

E se, por um lado, a leitura do episódio é muitas vezes sensacionalista — porque tretas assim, de fato, rendem cliques —, por outro, a exposição de uma dor, que é de tantas, pode mudar o rumo de muitos casamentos.

A trajetória da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes entrou pra história aos poucos. Em 1983, seu então companheiro, o colombiano Marco Antônio Viveros — pai de suas três filhas —, tentou matá-la duas vezes, e só foi a julgamento oito anos depois. O agressor, à época, foi condenado a 15 anos de prisão, mas saiu em liberdade. O que iria se repetir no segundo julgamento, em 1996.

Em 2002, quando o crime estava prestes a prescrever, Marco Antônio, enfim, foi preso. Por dois anos. Sim, dois. Depois de ter atirado em sua própria mulher, simulando um assalto, e, meses depois, quando ela já estava paraplégica — por consequência do tiro —, ter tentado eletrocutá-la, esse foi o tempo de sua reclusão.

Hoje, Maria da Penha comanda seu próprio instituto. Além de seguir dando palestras pelo país, a mulher que virou lei é o nome por trás de muitos outros. De quem denuncia. E de quem não denuncia, mas que sabe dos seus direitos.

Voltando da Flip da Pagu, musa feminista que revolucionou o modernismo e o papel da mulher naquele movimento, me lembro de uma música dos Smiths, banda inglesa que marcou minha geração. "Algumas garotas são maiores do que outras." A Maria da Penha, essa garota gigante, nossa eterna gratidão.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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