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Opinião

Todos os assuntos nos levam ao debate do valor da vida da mulher

Minha família se desfez quando eu tinha oito anos. Ou seja, quatro décadas atrás. E quando digo "se desfez", é porque, de fato, sou até hoje marcada pela separação dos meus pais. Acho que, de uma forma ou de outra, é o que acontece em maior ou menor grau com todo mundo que passa por isso.

Mesmo assim, a falta de ar que chegou com a dor de ver a dor da minha mãe voltou com tudo quando, aos trinta, decidi encerrar meu casamento. Tinha medo de que meu filho sentisse um desamparo que na verdade era meu, da menina de oito que, volta e meia, aparecia - e ainda aparece - na mulher que, as vezes com dificuldade, vejo no retrovisor.

Meu pai saiu de casa de forma pouquíssimo original. Aos cinquenta, conheceu uma garota de vinte, e deixou o "trampo" de criar uma criança e três adolescentes com quem, afinal, nasceu para isso, certo? Estou sendo irônica, naturalmente. Mas a ironia, na verdade, é uma revolta e também uma tristeza que, infelizmente, se renovam desde os anos 80.

Ainda hoje, embora veja avanços aqui e ali, o trabalho de dar conta da criação dos filhos e da despedida dos pais permanece, em sua maioria, na conta do sexo feminino. E quando eu digo conta, isso é "zero" força de expressão.

O tempo que as minas dedicam aos seus - que, por questões óbvias não são só 'seus' - é um tempo subtraído de suas existências. Estamos falando de lazer, de produtividade, de sanidade. O tema 'economia de cuidados', supostamente caseiro, na verdade impacta o desenvolvimento do país, porque envolve saúde pública, violência de gênero e desigualdade de renda.

Lembrei de tudo isso quando vi o post da atriz Alessandra Negrini comentado uma notícia a respeito de uma noite em que havia saído para dançar com amigos. O texto, que falava que a atriz havia "se esbaldado de shortinho e barriga de fora", juntava em uma única frase uma mão de preconceitos, como machismo e etarismo. Afinal, não somos feitas para a diversão. E nossos corpos são julgados em absolutamente todas as circunstâncias.

Eu também poderia citar, para ficar nos acontecimentos da última semana, o comportamento do vencedor do BBB com a sua companheira, ou o raio-x de Brasil que se esconde no episódio do "Tio Paulo", que vivia sua velhice com uma sobrinha. A propósito, para quem não viu, recomendo o último Fantástico, que destrincha o que há por trás das imagens que, com razão, chocaram o país.

Será que misturei muito os assuntos? Ou será que podemos dizer que todos, absolutamente todos, tem em comum o valor da vida da mulher?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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