Maria Ribeiro

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Opinião

Para Lidiane e Tony, que há anos se dizem coisas bonitas

Sou atriz há 30 anos. Não sei exatamente qual foi o momento em que decidi que essa seria a palavra que iria me definir em fichas de hotel, mas tive uma ideia dois dias atrás. Vendo o Fantástico, naquela desatenção absolutamente sagrada que parece sobrevoar as tevês de domingo à noite. Como se a semana pedisse uma suspensão do tempo que só acontece no horário em que minha mãe me levava à missa quando eu era pequena.

Foi uma única frase, mas veio do Tony Ramos. Chorei na hora. E fico comovida só de pensar em tudo o que aquelas palavras carregam (mas não pesam). Vou parar de enrolar porque o lance aqui é abrir o jogo. Contar o que vi desde a última vez em que a gente se viu. Distribuir o que se dá nas associações aleatórias do meu cérebro eletrônico e do meu coração anos 90.

Tony é um dos maiores atores do país e precisou ser internado e operado às pressas depois de passar mal em casa. Esses dois fatos - irrefutáveis - nos levam a um terceiro: a entrevista que ele deu ao lado da companheira, Lidiane, pra dizer que já estava bem, pra agradecer o carinho dos fãs, e pra nos alertar sobre os sinais que o corpo dá, e que às vezes a gente ignora.

Acontece que no meio da conversa ele se comoveu, Lidiane também e eu... bom, quem sou eu pra não seguir um bonde desses.... Então, Tony veio com uma fala escrita por ele, ator, autor e diretor, tudo junto e misturado, que me fez entender exatamente o porquê de estar no mundo do jeito em que estou. Uma frase simples, dita por um sujeito aberto, em um instante sem qualquer defesa ou proteção. "A emoção é o bem maior do ser humano".

Eu sempre me emocionei muito com as coisas. Lembro, criança, de ouvir minha mãe comentando com frequência: "Maria é sensível demais, tadinha...". Também guardo firme na memoria o tanto de vezes em que tentei ser diferente, talvez por ter aprendido que seria mais elegante se fosse mais fria, ou, vá lá, um pouco mais cool.

Mas a gente é o que é. E se, por um lado, tenho muitos projetos de mudança em características minhas das quais não me orgulho, por outro esse é um lugar que agora ocupo com todas as letras. Eu choro. Mesmo. Na vida, no palco, nas câmeras, nos restaurantes, no cinema, no sofá e, se bobear, até no meio de uma história engraçada.

Se por anos isso foi algo que eu procurei esconder, agora o plano tem nome, sobrenome e ate par romântico. Porque eu sou uma brasileira educada por novelas, porque eu não acredito em elegância sem verdade e porque eu sou Caetano Futebol Clube: quero me comunicar com toda a gente e não ter medo de ser julgada por, eventualmente, me emocionar mais do que sempre considerei chique.

Aliás, falando em chique, estou até agora morando no vídeo da cantora francesa homenageando a Greta G no Festival de cinema de Cannes. Frances Ha é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, e ver uma mulher se declarando pra outra dessa forma rasgada, cantando aquele Bowie curativo, nem sei. Modern Love é pra ouvir todo dia.

A propósito, vou aproveitar pra me declarar também e, desta vez, pro casal menos moderno de todos, e que talvez por isso seja um dos mais, e que insiste em quebrar todo o meu ceticismo com relação a casamentos e toda a minha tolice disfarçada de contenção.

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Pra Lidiane e Tony, que há anos se dizem coisas bonitas, obrigada por se amarem em público. A gente ama o amor de vocês.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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