Com quem será? Música de aniversário diz que vida só faz sentido namorando
"Com quem será? Com quem será?"
Sabe aquela musiquinha opressora e traumática que alguns adultos - sim, adultos - insistem em cantar para as crianças logo depois dos "parabéns para você?" Colocando casamento como pauta quando a gente ainda está aprendendo a ler placa de trânsito e rótulo de xampu? Deixando marcas que duram até hoje em mulheres aparentemente maduras como eu?
Eu juro que eu não sei se é por causa dela, da música. Ou se é por influência das novelas. Ou, se - socorro! - somos assim mesmo, românticas "de fábrica". A questão é que, pelo menos no meu caso, eu juro que aos seis anos de idade já pensava em casar e ter filho. E quase morria do coração quando via o menino que eu gostava na fila da cantina. Sem falar no drama que era decidir os penteados que eu iria para escola. De modo que eu realmente acho que não precisamos de mais pressão em cima desse departamento, o amor.
Queria dar esse toque, numa boa, para o pessoal que ainda faz uso dessa ferramenta. Não é por mal, eu sei. Mas é uma ação violenta, por mais inofensiva que pareça. Um bullying autorizado que funciona tanto quanto o sapato perdido da Cinderela. Ou seja, zero.
Quer dizer, até funciona. Funciona para gente achar que a vida só tem sentido com um par amoroso. Um marido, um namorado, uma namorada, uma única pessoa para falar de série, sapato, plano de saúde, preço do azeite e legenda do Instagram. Um alguém que cumpra todos os departamentos dos nossos seres divididos, multiplicados e ávidos por trocas de diferentes formatos, e olha que eu nem estou falando de relacionamento aberto.
Eu me apaixonei pela primeira vez na primeira série. Eduardo foi minha estreia fulminante no esporte de estudar o outro, minha matéria favorita de todos os tempos - aliás, até hoje.
Aí vieram as grandes histórias: o namorado da adolescência e a dor da descoberta de que não ia ser pra sempre, o primeiro marido e a certeza de que "agora, sim, vai ser"- e, finalmente - o segundo enlace onde você, no caso eu, já estava meio quebrada e com alguns remendos, mas, "ah, vai que agora, perto dos 30, eu já entendi alguma coisa". Que nada.
Foram vinte e cinco anos jogando todas as fichas nesse esquema Tim Maia: "eu e você, você eu", até que aos 41 anos, depois do segundo divorcio, eu decidi que nunca mais ia me jogar nessa onda gigante.
Mas como o amor ainda me parece uma boa ideia de identidade - aprendo muito quando olho de verdade para alguém, portanto gosto mais de quem vejo no espelho... W hoje é dia dos namorados (e recentemente fui intimada a escrever os votos de dois casais que admiro), vou fazer o que prometi nunca mais fazer: me render a essa data controversa chamada dia dos namorados. Que o corretor do meu computador, esse vendido, não se conforma que seja escrito com letras minúsculas.
Ok, não precisam ser - não são. São letras grandes. Assim como as amizades, as trocas fugazes, e as pessoas com quem um dia dividimos a vida e que ainda nos constituem. Mesmo não estando mais com a gente.
O "Com quem será?" de verdade quase nunca é no singular, e não deveria, nem para crianças e nem para adultos, ser uma sentença de exclusão. Tem muita gente no planeta e nem todo mundo é feliz na caixa de casal do 12 de junho.
No mais, por acaso, e não que isso importe a alguém, talvez eu diga um "eu te amo" para um rapaz da Vila Madalena. Ou faça um stories como quem não quer nada. Mas isso é um detalhe. Que esse é um texto meio de protesto. Junho na verdade é mês de festa junina, essa beleza brasileira. Mas essa é outra coluna.
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