Não ia contar, mas vou: um término com ansiedade, saudade e WhatsApp
Eu não ia contar, mas vou: eu sou muito ansiosa. Mal dormi. Quase liguei para Tata Werneck - a voz da ansiedade em 'Divertidamente 2' (que ainda não vi, mas é só no que penso). Além da menopausa, que também está me dando insônia, mas esse é outro assunto. Ou não, já que a pauta é a ansiedade.
Nunca foi uma escolha, ser ansiosa. Mas eu sou. Eu também preferia não tomar café com açúcar, não ter taquicardia toda a vez que ouço a palavra 'universo' e ser boa de andar de sapato de salto. Será que ainda consigo mudar pelo menos um desses três defeitos -que eu nem sei se são defeitos?
Para deixar claro: eu nunca me orgulhei do raio-X do meu cérebro e me esforço bravamente para modificá-lo. Faço análise como quem escova os dentes, ouço João Gilberto sempre que esqueço o caminho de casa, ando com ansiolítico na bolsa e creio no poder revolucionário dos chocolates, das séries de TV e do protetor labial.
Foi bom enquanto durou. Trocamos mensagens de amor, áudios dramáticos, palavras duras, fotos de looks, respostas para tocos, localizações em tempo real e links que foram de liquidações a aulas de filosofia. Mas agora eu preciso ir embora. Fui até onde pude.
Eu sou medrosa e corajosa, delicada e bruta, sensível e egocêntrica, e nada disso me parece contraditório, mas se hoje duvido de toda e qualquer verdade absoluta, estou igualmente certa, de que, ao menos atualmente, não tenho mais saúde para lidar com o WhatsApp.
Algumas derrotas servem para nos dar liberdade, e o último final de semana acendeu a lâmpada perfeita para sair desse túnel. No teatro, para ver uma exibição especial de Central do Brasil com uma orquestra de câmara, e do lado do cara que eu gosto, lembrei do porquê de ser artista, de quem eu era há um quarto de século e, principalmente, de quem eu quero ser nos próximos 25 anos.
Eu quero ser "ao vivo". "Ao vivo" para entrar de verdade em um filme que vi pela primeira vez quando ainda morava com a minha mãe, que hoje é minha filha. "Ao vivo" para deixar meu sistema de alerta 'de autos' e sentir no coração, e não no pensamento, que o tempo, o amor e a morte são os únicos post its que realmente importam. Hoje é só nisso que eu penso: na urgência de ter relações profundas e não conversas de elevador.
No final da sessão, quando já estava, obviamente, em lágrimas com Fernanda Montenegro e Vinicius Oliveira, vi entrar em cena meu amigo Caio Junqueira, com quem fiz uma novela e um filme e que morreu precocemente em um acidente de carro. Foi a gota d'água, ou um mar inteiro. Eu tinha esquecido que o Caio fazia o filme.
De repente me deu 'saudades de tudo', como diz Dora, já no ônibus de volta ao Rio de Janeiro. 'De tudo', inclusive do futuro. Saí do Sesc e no carro do meu namorado - que ao contrário de mim consegue ficar horas longe do celular - decidi que, assim como o Fluminense e o Fernando Diniz, meu WhatsApp e eu também precisamos de um tempo.
Ansiosos, uni-vos: o email pode ser lindo, o telefone é o novo vinil e o risco de duas vozes simultâneas em ligações ou no 'tête-à-tête' pode mudar, senão o mundo, a única história que a gente tem para deixar. Para quem como eu é muito ansiosa e fã de mergulho, acho que telas grandes servem bem mais do que telas pequenas. Conversas, também.
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