Maria Ribeiro

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Opinião

Ela é legal? É a vilã? Vou responder às perguntas que lotaram minhas DMs

"E, aí? Conta! Ela é legal? Você se identificou?". Nos últimos dias, essa foi a pergunta que mais ocupou minha caixa postal. E não, não foi dessa vez que eu troquei áudios jurídicos com meus amigos advogados a respeito de nenhuma lei específica. Legal, no caso, queria dizer "do bem', e, não, regulamentado. As falas, quase sempre idênticas, vinham tanto de pessoas íntimas quanto de desconhecidos.

O tema? Minha proximidade com a personagem do momento. Por causa de um ou dois comentários no Instagram, que geraram mais barulho que a obra do apartamento de cima -que está em reforma há mais ou menos três anos- me vi em um pequeno tribunal de "ou isso ou aquilo" , que diz muito sobre como temos vivido com muitas certezas e pouco debate.

Mas as perguntas, se ela "é legal", eu entendo. A curiosidade é sempre um ótimo motivo para levantar da cama. Eu mesma já coloquei até sapato depois de dias de pijama para ouvir uma opinião controversa. Mas o engraçado -para usar uma palavra condescendente- é que, ao final do questionário, sempre rolava, por parte dos meus interlocutores, um comentário meio maniqueísta: "E você acha que ela é vilã?"

Bom, sou um ser de laços firmes, ou de "nós de marinheiro", como dizia meu pai. E costumo gostar de seres complexos, duais, humanos. Mesmo que eles sejam personagens de animação. Porque conhecer alguém, e isso também inclui um "alguém de cinema", é como aprender uma língua. Exige estudo, atenção e o mínimo possível de julgamento.

Vou tentar ser mais objetiva, e estacionar em uma única frase, a que mais se repetiu nas minhas DMs e a que questionava, à la "ser ou não ser", se a Ansiedade é ou não "legal" (foi mal, as aspas entraram sem a minha autorização, a Rebeldia bem que podia estar nesse pacote).

"Ela é do mal, Maria", diz meu enteado, de sete. Argumento que não. Que quase todas as emoções têm dois lados. Mas também admito que eu tinha me organizado para me achar idêntica à ansiedade, o que não aconteceu.

Afinal eu sou formada no tema desde quando eu nem sabia que aquele coração batendo nas aulas de educação física já era um spoiler de alguma fobia. Pânico, angústia, compulsão, todos esses substantivos já fizeram parte do meu currículo. Com uma certa vergonha.

Crises que eu considerava fraquezas, e que hoje, se eu pudesse, transformava em diploma e tatuagem.

Mas a ansiedade que eu, obsessiva que sou, estou aqui na segunda coluna do 'Divertida Mente'. Só que agora pós-filme. Para dizer que sim, que é claro que eu me vejo naquela inútil antecipação de possibilidades de acontecimentos, mas que eu me comovi de verdade foi com o "senso de si". Uma escultura cheia de curvas, misto de obra de arte com aquela busca incessante - e vã - de tentar saber quem eu sou diante de situações perigosas.

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Já passei por alguns testes, e nem sempre tirei nota 10. Por outro lado, nunca substituí os amigos de sempre por outros mais populares. Também não costumo dizer textos sem convicção. E raramente me abstenho em situações de injustiça.

Mas, agora, aos 48 anos, gostaria de acreditar que há um lugar seguro, de preferência no meu país, onde eu possa errar sem medo da eliminação. As vezes até com algum benefício. Porque entre "humanos humanos", como diz o Tony Ramos, o ideal é que a espontaneidade não morra na infância.

Meu "senso de si" é falho. E minha ansiedade é imensa. De qualquer forma, independentemente de todas as emoções da obra da Disney, gostaria de dizer que morro de medo de todo mundo que se afirma, sem nenhum pingo de autocritica, como cem por cento "legal".

Para esses, sugiro fortemente a experiencia no cinema. Com foco especial e amoroso ao maravilhosamente profundo e mutante "senso de si".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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