Maria Ribeiro

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Opinião

Preciso pedir desculpas: quero priorizar amigos, mas amo meus cobertores

Eu sei, talvez você nunca me perdoe. E já faz mais de uma semana, ou seja, a cada dia que passa a minha situação fica pior. Mas sabe quando o calendário anda rápido demais e quanto mais você tentar alcançá-lo, mais você se dá conta de que já perdeu totalmente qualquer possibilidade de conserto?

E olha que eu tinha pensado em várias desculpas que, na verdade, olhando agora sequer podem ser consideradas desculpas: tenho filho, mãe, cachorro, gato... sem falar nos roteiros e nos livros atrasados que me aguardam praticamente com revolver na cabeça. De modo que justificativas não faltam. Eu de fato trabalho muito e tenho sempre algum amigo precisando de um café - o que, preciso dizer, muda um pouco a ordem da fila. Prioridades são prioridades.

Porque eu acredito seriamente - e cada vez mais - nas amizades sem cobrança. Mas, da mesma forma que me sinto no direito de ficar três meses sem aparecer nem nos comentários do Instagram, sou totalmente "delivery" quando alguém me chama de verdade. Sabe aquela pizza que promete entrega em meia hora? Essa sou eu, depois de ligação importante.

Mas festas de aniversário, juro, acho cada dia mais puxado. Ainda mais assim, em casas noturnas com muita gente, música alta, depois da meia noite... eu realmente estou com algumas questões.

Eu sei, é ridículo, e certamente perco noites inesquecíveis, mas é que talvez eu precise admitir: a preguiça somada à idade, multiplicada pelo frio, acompanhada da existência gloriosa de séries e livros, tudo isso tem feito dos meus cobertores e das minhas mantas estampadas um verdadeiro projeto de vida.

Funciona assim: acendo uma vela, abro um chocolate, penso na série do Wagner Moura com o Donald Glover, ou na nova temporada de The Bear, e sou possuída por uma espécie de síndrome de Garfield, um personagem da minha infância que não conseguia ver um solzinho sem se jogar horizontal.

Mas ó, em meu favor, preciso dizer que eu podia ter mentido. No entanto, até isso atualmente me parece um esforço estúpido. E depois, a real é que ando de fato meio fóbica com encontros muito grandes. Fico aflita, com medo de não ser ser gentil com todo mundo, sofrendo por saber que não vou me aprofundar em nenhum assunto, e muito menos matar a saudade das pessoas que eu gosto.

Mas nada disso importa. Não há justificativas. Eu já podia ter te procurado, pedido perdão, mandado flores ou ao menos ter te ligado para dizer tudo isso. Acontece que sou covarde e agora estou aqui, com texto, vídeo e coração para mandar, duas semanas depois, um feliz aniversario para você, Leandro (agora oficialmente eleito como representante de todas as faltas que venho acumulando em comemorações de pessoas extremamente queridas).

Pessoas com quem eu adoraria conversar, mas em algum endereço absolutamente revolucionário, onde a gente pudesse, quem sabe, aproveitar um dos sons favoritos da minha vida. Um som que é pessoal e intransferível, e que, de tão antiga e acessível, um dia há de ser valorizado como moderninho. Seu nome? Anota aí que é uma coisa irresistível. Um nome curto e envolvente, com três letras que, na minha opinião, mudam o mundo e fazem tremer meu chão. Ai, ai...acertou quem disse voz.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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