Maria Ribeiro

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Opinião

Dá para celebrar sem militar? Medalhas de Rebeca e Bia mostram que não, né?

"Lá vem você, ser igual a todo mundo e produzir mais um texto sobre a Rebeca. Ô pessoa com talento para arquibancada. Mas ó: nada de pauta feminista, tá? Que ninguém mais aguenta esse papo de diversidade e igualdade de gênero. Será que não dá para celebrar sem militar?"

Afinal, a segunda teve cara de domingo. Quer coisa melhor? A gente gritou, chorou, renovou a bandeira, tudo antes do meio-dia - e no primeiro dia útil da semana. Não está bom?

Mulher é muito chata mesmo, vou te contar. Não pode ver uma Olimpíada que pela primeira vez na história tem o mesmo número de atletas femininos e masculinos, e já vem com um retrovisor.

E em vez de abrir uma cerveja vai para o Google. Ver fotos dos collants da ginástica olímpica? Não, conferir as trajetórias dos nossos medalhistas.

Numa boa, passado é passado. Se ao invés de olhar para trás você se contentasse com o presente... Mas, não. Nada nunca é o bastante. Precisa dizer do significado de ouvirmos os sobrenomes Andrade, Souza e Leal, depois de anos tentando acertar a pronuncia dos nossos velejadores na identidade dos brasileiros. Precisa falar de curva social, como se duas medalhas de ouro estarem no peito de duas mulheres negras já não fosse revolucionário o suficiente.

Ok, nossos recordistas olímpicos eram homens brancos, mas e daí? Para que pensar nisso agora? Em pleno Carnaval? Só porque tem um país inteiro olhando para um espelho que é só visto de quatro em quatro anos?

Bia Souza, Rayssa Leal e, finalmente, Rebeca Andrade. Rebeca que depois de juntar Baile de favela com Bach na competição de Tóquio, agora voou ao som de Anitta com Beyoncé. Que o funk é verde e amarelo, e cor, já dizia Gilberto Gil, é um substantivo feminino.

Podia ser bossa nova? Não, não podia. E olha que para mim João Gilberto é viga "do tipo pai e mãe". Mas é que a Garota de Ipanema, aquela moça loira que vem há décadas no balanço do mar... Então, acho que ela não cabe mais em 2024. A gente está no corre e dá mortal praticamente o dia inteiro. Tudo isso enquanto festeja e milita ao mesmo tempo -de preferência usando algum brilho.

A garota de Ipanema agora é outra.

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Ainda bem.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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