Maria Ribeiro

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Opinião

O 'baú da felicidade' no meu divórcio foi conhecer a madrasta do meu filho

Sempre quis ser mãe. Mas entendo, cada vez mais, minhas amigas que optam por não ter filhos. No meu caso, embora tenha sido muito feliz nessa viagem extraordinária que é ver o desenvolvimento de duas pessoas, também preciso dizer o tanto de vezes em que me senti sozinha.

Espinha de peixe na garganta, bullying na escola, adoção de bicho, morte de bicho, medo no meio da noite, angústias em viagem, separação... Preciso fazer força para pensar em uma única situação marcante da vida dos meus rebentos em que pude contar com um companheiro. Era eu e eu, matemática padrão em um Brasil onde pais e mães ainda têm funções completamente desproporcionais na criação de um filho.

Mas esse é o assunto mais batido do mundo. Lugar-comum do lugar-comum. Nem eu aguento mais. E depois, quem sou eu para falar de sobrecarga? Com tantas mulheres que passam por situações infinitamente mais duras? No entanto, eu sou eu, minha única opção possível. E, diante dela, me dou o direito de não falar nem da lua cheia e nem do Silvio Santos, mas de alguém que mudou para sempre a trajetória da minha maternidade.

Há sete anos meu caçula ganhou uma madrasta. Desde então, já perdi a conta de quantas vezes ouvi meu filho contar de experiencias divididas com ela. Juntos eles já tiveram gatos, viram filmes, tocaram piano e montaram dezenas de quebra-cabeças (atividade que eu, com a paciência que Deus me deu, jamais seria capaz de praticar, por exemplo).

Mas por que falar disso agora? É que essa semana Luisa, a madrasta do meu filho, fez aniversário e eu fiquei pensando em como, estranhamente, a amo. Pensei também em como um divórcio, que costuma ser um episódio especialmente triste para uma criança, pode ser uma chance imperdível de ser criado por alguém que não estava no script inicial, mas que pode fazer toda a diferença na história de um ser humano.

Aliás, não só em uma. Porque se a vida do meu filho foi transformada por sua presença, o mesmo aconteceu com a minha. Juntas vimos um garoto tímido se transformar em um adolescente justo, corajoso e, principalmente, atento à condição feminina. Ponto para ele, e ponto para a gente.

Aos novos homens, a madrastas e padrastos incríveis - saudades imensas do meu - e aos pais que não abrem mão de conviver intensamente com seus filhos, o meu sincero respeito. Essa é a verdadeira "porta da esperança" - junto com "baú da felicidade" para absolutamente todos os envolvidos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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