Marçal, a conta dos meus erros e acertos jamais será atribuída ao gênero
"Mulher é inteligente. Mulher não vota em mulher." Não era nem meio-dia quando a frase do Pablo Marçal no debate do UOL com os candidatos à Prefeitura de São Paulo invadiu as redes e, consequentemente, todas as partes do meu corpo (e não só o cérebro). Isso porque eu voto no Rio de Janeiro...
Bom, vamos lá, que não podemos perder uma oportunidade dessas. Afinal, falas machistas que fazem pouco da nossa capacidade intelectual podem até não fazer sentido para você - como também não fazem para mim -, mas representam o pensamento de muitos brasileiros. E não só homens.
E não importa se você foi para Harvard, caso da candidata Tabata Amaral, alvo da misoginia do candidato, ou se você é CEO de um clube ou de uma grande empresa, ou ainda se você cria seus filhos e cuida dos seus pais enquanto trabalha oito horas por dia. Não importa se você tem mestrado, doutorado e entende de física ou de novela, sempre vai ter alguém dividindo o mundo com as construções sociais de masculinidade dos nossos avós. Ou pais. Ou nossa.
Pensa só quantos de nós não reproduzimos, ainda que de forma inconsciente - em olhares, gestos, ou mensagens de WhatsApp-, o mesmo raciocínio que faz uso do termo "feminino" para julgar um menino que, por exemplo, prefere brincar de boneca a jogar futebol, ou atribuir funções de cuidado e limpeza a uma menina que só pensa em estudar. Não é só o Marçal que vê sentença em certidão de nascimento. E é por isso que devemos estender a questão para além dos personagens da semana.
Recentemente, no podcast Café da Manhã, da Folha de S.Paulo, a escritora e figurinista Thaís Farage deu uma entrevista sobre a importância da moda nas campanhas para prefeito, governador ou presidente. Ao ser questionada sobre qual a roupa certa para uma mulher em espaços de poder, ela responde: "Ser homem".
Se essa, portanto, é nossa realidade, como mudá-la? Não tenho a resposta, mas imagino que tirar proveito das falas dessa campanha, procurando-as em nós e nos quadros do Congresso - ou seja, em quem elegemos - ao invés de apenas criticá-las, seja mais inteligente.
Não que, com isso, eu vá me absolver dos inúmeros atos de burrice que cometi até aqui. Juro, dava para fazer um livro, um verdadeiro manual de tudo que eu não aprendi com manuais, de véus de que só com o tempo fui capaz de abrir mão. De qualquer forma, não acho que essa conta - a dos meus erros e acertos - possa ser terceirizada, e atribuída ao gênero. Seria mais fácil, admito. Teria menos raiva das horas que já perdi por preconceito, teimosia e ausência de autocritica.
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