Sonhava com comédia romântica, mas errava querendo marido e não profissão
Eu tinha sete anos de idade e já pensava em casamento. Lembro que tinha uma brincadeira que era bem comum na minha escola, em que a gente colocava no papel três 'projetos de futuro' e ia fazendo uma espécie de 'Uni, Duni, Tê' amoroso e familiar.
Na prática, isso significava deixar escrito nos cadernos -e também no cérebro-, que a vida, se tudo desse certo, se resumiria a três pretendentes a marido, três possibilidades de filhos (eu sempre colocava que eu queria ter quatro) e três possíveis lugares para passar a lua de mel.
Não, não tinha profissão. Não que eu me recorde. O importante era ter o Natal resolvido. Ia acrescentar Ano-Novo, mas fiquei angustiada só com a junção das palavras. Impressionante como os carimbos da infância não saem nem com a menopausa.
Bom, eu amava editar esse, como é que eu vou dizer, 'trailer imaginário da minha 'eu' dali a quinze anos'. E minhas amigas também. A gente ficava horas divagando sobre a vida adulta, uma vida baseada nas nossas realidades, claro. Nas nossas casas. Nas nossas mães. Nos nossos privilégios e nas nossas faltas.
No meu caso, e no caso de quase todas as meninas do meu recreio - não lembro de ver garotos na cena - existir era praticamente o que vinha depois do vestido branco. O que mesmo? Um ano de comédia romântica e todos os outros de devoção. Devoção às crianças, ao marido, ao supermercado, e, sobretudo, à segunda divisão.
A comédia até que faz algum sentido se a gente puder - depois de um tempo, naturalmente - achar graça das partes chatas. Porque, bom... uma vida em torno de uma única parceria é queda certa ou seu dinheiro de volta.
Hoje, duas separações e vários namorados depois, eu gostaria, portanto, de propor algumas mudanças nesse jogo - se é que alguma menina ainda vem com esse chip de filme com happy ending. Se sim, ofereço aqui meu modesto raio-X: Casar as vezes é muito legal. Fui bem feliz nos meus casamentos. Separar pode ser igualmente incrível (não na hora, tá?).
Ter filho é o máximo. Para mim. Mas nem todo mundo tem vontade de zerar todos os episódios da Peppa Pig. E ser mãe não é sinal de nada - a não ser de que você é mãe.
De modo que, hoje, se eu pudesse refazer minha lista de desejos de garota, eu me recomendaria, além de um trabalho que me ensine coisas novas e pague minhas contas, uma analista bacana, uma coleção de camisetas divertidas, e um baita currículo de amigos.
Quer dizer, de amigas. Pensando bem, está aí um departamento que eu entendi desde cedo.
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