Perder em conjunto, como o Real Madrid fez, é se recusar a apoiar injustiça
Do quarto ouvi um grito: 'Não é possível, isso é roubo'. A frase, saída da boca do meu filho, tinha um tom assertivo e uma tristeza evidente, mas eu, vinda de outro cômodo (e praticamente de outro planeta), demorei a entender o contexto.
O ar era grave e, apesar da TV estar ligada, acionei minhas sinapses em silêncio. Vini Jr, Bola de Ouro, Real Madrid, injustiça.
Pronto, mais uma 'memória base' no HD do meu caçula, pensei, lembrando do Divertida Mente, o filme que volta e meia organiza meus sentimentos.
'Ok, Maria. Faz parte. Perder é praticamente a lição número um de todo e qualquer ser humano'. Podíamos até fazer lista, quem topa? Porque dependendo da derrota, vale quadro e tatuagem... sabe quando a gente perde, mas perde certo?
Como aquele amor que por anos você considerou bonito, ou aquele dinheiro que te roubaria três meses com seus filhos...
Mas, voltando para lista, eu preciso dizer que sou boa: já perdi varias eleições, quatro Olimpíadas da escola, uma amiga que não era amiga, meu pai, uma mala de negativos de quando era pequena...Isso sem falar no colágeno, no estrogênio, na capacidade de enxergar cardápios à luz de velas, e no tanto de coisas que eu estou esquecendo porque agora eu esqueço até de coisas perdidas...
Mas, se por um lado, a passagem dos anos vem com despedidas e derrotas, por outro, ela se apresenta como um super treino de resistência.
Porque aprender a perder, juro, deve ser algo tão natural quanto saber ler, escovar os dentes ou dar bom dia no elevador. Aprender a perder é admitir a injustiça como um dado de realidade e ainda assim continuar com ela.
E claro que admitir não quer dizer aceitar. Estamos na luta e ela é para sempre, como diz Sérgio Vaz. Mas respirar é selvagem, e há que se ter coragem para fechar com o pacote completo. Um prêmio? Delícia. Um 'não'? Ok, vamos em frente.
Mas é claro que é totalmente diferente perder um objeto, uma parceria, uma disputa ou uma pessoa. Por mais que os ensaios devam ser sempre aproveitados.
Agora, se a gente pudesse perder em conjunto, como fez ontem o Real Madrid ao não embarcar - de última hora - para Paris... se os times agissem como times, nem que fosse de vez em quando... Nossa, quanta diferença faria, dentro e fora do futebol.
Um grupo de pessoas se recusou a assinar embaixo de uma injustiça. É só isso que eu sei. É o que basta. Ah, mas o passado do clube e etc e etc...
No passado do clube, não tinha o Vini. E agora tem.
As vezes a vida é justa.
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