Maria Ribeiro

Maria Ribeiro

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Meu amor pelo Senna é, na verdade, amor pelas manhãs de domingo com meu pai

Quando Ayrton Senna morreu em frente aos televisores de um Brasil em suspenso, eu tinha 18 anos. Ao lado da minha melhor amiga em um apartamento na zona sul do Rio de Janeiro, lembro da cena: nós duas no sofá tentando compreender como era possível estar tudo ótimo em um segundo e ficar tudo péssimo logo depois.

Me recordo também de ficarmos, em questão de minutos, um pouco mais adultas. Há algo na maturidade que não abre mão da consciência da morte.

Monica, assim como eu, nunca tinha perdido ninguém. Mas quem era Ayrton Senna? E por que a partida de alguém que não conhecíamos - e que praticava um esporte onde o risco era parte do pacote - nos abalou tanto? A nós e a todo o país.

Pensei em tudo isso quando comecei a ver a série da Netflix sobre a trajetória do ídolo da Fórmula 1. Dirigida por Vicente Amorim e Julia Rezende, a série mostra a trajetória do piloto, um personagem com características sutis e contraditórias, como a obsessão e a timidez, e é defendido com perfeição por meu amigo Gabriel Leone.

Aliás, todos os atores estão muito bem. O que é a Xuxa de Pamela Tomé? E sim, senti falta de Adriane Galisteu. Ao mesmo tempo, fui tocada pela presença de Lilian, a primeira parceira de Senna, que logo compreendeu que, às vezes, só o amor não é suficiente. É preciso um projeto, e, no casamento, essa é uma palavra para dois.

Também gostei muito do último diálogo do brasileiro com o francês Alain Prost. É um arco bonito, esse. De sair da rivalidade, de ter coragem de mudar. É bom quando o tempo e a autocritica se encontram e transformam relações - e como é bom praticar esse esporte. Não é por nada, mas o fim do ano, a propósito, pode servir para isso. Está aí uma boa função para dezembro.

Enquanto terminava a série, perdi um amigo. Acabei juntando alguns sentimentos (que provavelmente só farão sentido para mim). Paulo Giardini também foi embora cedo e de forma igualmente inesperada.

Paulinho, que era ator e fazia a melhor pizza do Rio de Janeiro, era um sujeito incrível, e, tenho a impressão, o exato oposto de Ayrton Senna. Era um sujeito que via como sucesso estar perto dos seus, e que não perdia o sono por reconhecimento.

No final das contas, não sei mais do que escrevo. De qualquer forma, acho que respondi à pergunta que me fiz quando questionei minha ligação com Senna.

Continua após a publicidade

Claro que somos seres com talento para adoração (eu, ao menos, faço parte desse time). Mas, sob a gravidade de uma partida, percebi que o meu amor pelo Senna é, na verdade, pelo meu pai, pela minha amiga Monica, pela garota de 18 anos que dormia na casa das amigas.

Por que eu, embora adore dirigir, nunca gostei exatamente de corrida de Formula 1. Mas passar as manhãs de domingo com o meu pai - e com aquele barulho de fundo, naquela parceria silenciosa... Nossa, socorro! Que gatilho.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.