Escrevo para lembrar que mensagens de amor não são exclusivas de dezembro
Não, eu não sei mais que dia é hoje. Nem do mês e nem da semana. Também já não sei bem como me chamo e nem o porquê de estar me sentindo assim. "Mas assim, como?" Então, esse é o problema. Mais um "não sei" para minha coleção de verão.
Alguém me empresta uma enciclopédia do mês 12? Ou me manda uma DM com o manual da pressão que as decorações natalinas - que me encantam e me oprimem ao mesmo tempo - exercem no meu cérebro?
Bem-vindos a dezembro, o país das horas voadoras, o reino das retrospectivas, aquele momento do ano em que decidimos, coletivamente, ficar à mercê de 237 sentimentos difusos, quando, na verdade, o objetivo do jogo seria chegarmos em apenas dois: solidariedade e "valeu aí".
Solidariedade porque não existe nada mais importante do que ver o outro, por mais que sair de si não seja um exercício exatamente simples. Somos autocentrados por natureza e precisamos nos lembrar de olhar em volta. Alias, não só olhar. Olhar e agir, que pensamentos só valem quando viram verbos.
O "valeu aí" é o bom e velho "não posso deixar de agradecer". Eu não sei se é porque estou mais velha e meio hippie, mas juro, acordo diariamente com a sensação de ter ganhado na loteria.
"Uau, vou tomar café, encontrar uma amiga, ficar triste, eufórica, comer um chocolate, ver a Fernanda Torres no Globo de Ouro, passar um batom, ouvir a Tulipa no carro, colocar um vestido de festa para o Fluminense (que, uau - fogos de artificio imaginários - conseguiu se manter na primeira divisão)".
Mas, claro, também sou totalmente a favor de rituais. Acredito para valer na força dos símbolos (acho que isso é nome de um livro do Jung). E obviamente vou fazer como todo mundo: trocar presentes e abraços na noite do dia 24 e, se Deus quiser, estar com os pés no mar no dia 31.
Apenas não consigo deixar de lado a religião de que cada segundo vale um milhão, e que esse valor não depende do calendário, e sim, da nossa capacidade de aproveitar todos os lugares de um avião, de um ônibus, ou dos números que vemos nas folhinhas de parede ou na tela do celular.
Porque como dizia John Cassavetes, cineasta americano que faria anos ontem - e de quem sou devota fervorosa - "nós temos apenas duas horas para mudar a vida das pessoas". Ou seja, não dá para perder tempo no "departamento gentileza", e muito menos esperar a hora certa.
Para mandar mensagens de amor, tanto faz se estamos em dezembro, janeiro, maio ou setembro.
PS: Prometi para mim mesma que não ia falar disso, mas, não consigo. A moça do avião está com mais seguidores do que a Fernanda Torres, uma das maiores e mais inteligentes atrizes do Brasil. Ah, mas isso não quer dizer nada...Será que não? Não sei...Lembra de como comecei essa coluna? Dizendo que, diante das guirlandas, esqueci até meu nome... Então, conto com o apoio de vocês para interpretar.
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