Maria Ribeiro

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Opinião

Tudo que eu, roteirista, posso te contar dos bastidores do filme da Anitta

Eu sei, a data certinha foi semana passada. Mas como a gente ainda está em março, e eu acabei não escrevendo sobre o Dia Internacional da Mulher, vou fingir que o dia oito vai até o 31 desse mês, assim disfarço de ativismo o que na verdade poderia ser chamado de amor.

Sim, amor. Que, de uns tempos para cá, eu me dei conta de que eu realmente me apaixonei por ela. Na verdade, eu sempre tive coração para isso, para "gostar de gostar", como diz meu amigo Gregório - mas só agora percebo, com clareza, que desde o colégio dedico às minhas amigas uma fatia tão grande quanto as dedicadas aos rapazes por quem suspirei. Ainda bem.

Seria capaz de escrever um livro sobre as inúmeras mulheres que trago comigo, mas por hora, vou discorrer apenas sobre uma: Larissa.

Primeiro porque eu nunca tinha tido a chance de mergulhar tão fundo - e em tão pouco tempo - na trajetória de alguém. Depois, porque a sua existência é uma marca do nosso tempo, e testemunhar isso é um privilégio que eu nunca esqueci. Seria impossível falar do país - ou pensar a mulher de 2025 - sem levar em conta as transformações causadas por ela.

Se você chegou até aqui já imaginando que a Larissa a qual me refiro também atende pelo nome de Anitta, você acertou e errou.

Porque, embora, de fato, elas dividam cães, chocolates, e números civis, há uma cisão que não foi provocada à toa - e que é política.
Ou você acha que é possível ser mulher sem lançar mão de personagens? "Na rua, não sorria". "No trabalho, use roupas sóbrias". "No transporte, mantenha a cara fechada"." Em casa, aja com doçura". "Na reunião de pais, evite o batom vermelho". "Com o namorado, nada de opiniões muito fortes". "Em entrevistas, melhor evitar palavrões".

Aprendemos a ser várias praticamente antes de aprendermos a juntar silabas, e se Larissa decidiu batizar de Anitta a sua versão que sobreviveria à inadequação que ela experimentava na infância e na adolescência, gol maior não conheço.

Porque onde Anitta chegou, só Camem Miranda havia chegado - e, mesmo assim, com canções que pouco se referiam à realidade brasileira além zona sul, como o funk produzido nas periferias.

Ser responsável por feitos dessa magnitude, no entanto, não vem sem custos. Anitta estava com saudades da Larissa e sabia que devia a ela alguns momentos que lhe foram roubados, como os beijos com o Pedro, garoto que ela gostava quando tinha 12.

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'Larissa - outro lado de Anitta' é, portanto, mais do que qualquer outra coisa, um filme sobre a condição feminina. E sobre as estratégias que criamos para lutar por quem somos e existirmos como nos convém.

Há um casal romântico? Há. O romance de fato aconteceu? Aconteceu. E, como roteirista, confesso: torci muito por eles, embora o desfecho não tenha sido o esperado - um clássico da vida. E a propósito da dramaturgia.

O que talvez responda o protesto da minha vizinha: "Maria, amei o doc da Anitta mas achei um absurdo ela ter se submetido à um olhar masculino. Uma vida tão forte tinha que ser contada por uma mulher".

Fiquei quieta. Gosto do reencontro do casal de adolescentes. Sou romântica. Durmo ouvindo canções de amor. Só depois lembrei que podia ter dito a ela que os textos são meus, e que, portanto, a história de amor é também a de uma amizade feminina, e que o grande final feliz do filme é da Larissa com a Anitta, mas aí fiquei com preguiça de explicar.

Quem sabe, mando a coluna para essa vizinha.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

3 comentários

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Vera Lucia Medeiros

É muita falta de assunto

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Ygor Pereira

é muita falta de noção.

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Marco Vinicius Berzaghi

Prefiro assistir a Tv senado e ouvir uma entrevista de tres  horas do Tite, do que pagar para vet isso. Tem gente muito mais digna de orgulho nesse país do que essa cidadã...mas gente assim sempre acha plateia pra bater palma...

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