Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que nossos filhos precisam se interessar por política?
O prazo para jovens que completam 16 anos até dia 2 de outubro deste ano tirarem o título eleitoral termina dia 4 de maio e é assustador o desinteresse desses adolescentes em participar das decisões políticas do país. Acho muito triste quando alguém diz "não gosto de política" ou "não ligo pra política". Tudo na vida é política e, sim, dependemos dos políticos se quisermos ter um país melhor ou somos vítimas deles quando tudo vai mal na nossa sociedade. Ou, melhor, somos vítimas de nós mesmos, afinal somos nós quem elegemos essas pessoas.
Se já é triste ver um adulto desinteressado ou alienado, pior ainda é quando vemos os jovens. Afinal, eles são os adultos do futuro - se não querem nem votar, imagine então entrar para a política. E a maioria deve concordar que precisamos de mais pessoas com boas intenções na política ou vai perpetuar sempre um perfil de maioria corrupta, com pouquíssimos interesses no bem coletivo.
Agora um recado direto para as meninas: nós precisamos de mais mulheres na política! Se pensarmos que num passado não muito distante nós, mulheres, nem tínhamos o direito ao voto, é algo assustador. Então precisamos ocupar esses espaços nas decisões do país. Sem se posicionar ou ter uma atitude ativista, fica difícil lutarmos por nossos direitos.
No ano em que completei 16 anos, o Brasil todo se preparava para votar pela primeira vez para presidente após o sombrio período da ditadura. Corri para tirar logo meu título de eleitora porque eu estava achando aquilo muito importante e me achando importante também para meu país. Queria que os jovens de hoje também tivessem este sentimento. Pais e mães, conversem com seus filhos e filhas: vocês precisam dar o exemplo do que é cidadania, com direitos e deveres, dar o exemplo do que é viver numa democracia e de defender esta democracia. Se você não está nem aí para votar, como é que pode reclamar de alguma coisa depois? Ou até dizer um "eu avisei" depois?
Naquele ano de 1989 eu não só tirei meu título, como pesquisei candidatos, fui às ruas, passeatas, comícios, carreatas. Na escola promovi debates entre alunos que defendiam seus candidatos e, junto ao grêmio, organizamos debates com os próprios candidatos.
A emoção de participar disso tudo é indescritível. Um misto de esperança, com um sentimento de que você pode fazer alguma diferença pelo futuro, uma vontade de ir atrás, de acreditar. Isso é vida, é estimulante, é necessário.
Um dia, ao sair da minha escola toda paramentada com camiseta, boné e botons do meu candidato a presidente, um repórter do então jornal Folha da Tarde, que já não existe mais, me entrevistou sobre meu primeiro voto, sobre as eleições. Falei pelos cotovelos, característica ou defeito que carrego até hoje, e saí na capa do jornal com foto e tudo. Me senti "A" eleitora. Meu avô Paulão era puro orgulho: saía pra rua com o jornal debaixo do braço mostrando pra todo mundo "Olha, é minha neta. Tem 16 anos e já vai votar".
Eleição era uma festa. Votei pra presidente junto com meu pai e minha mãe, que na época aos 36 e aos 41 anos também nunca tinham tido o direito de votar. Pena que, às vezes, tem gente que quer estragar a festa. Na época podia ter boca de urna, ir com a camisa do candidato votar. A caminho do meu local de votação, uma mulher que fazia campanha para outro candidato gritou pra mim: "Coitada, tão bonita e tão burrinha". Minha resposta foi imediata: "Pior você, que além de burra é feia". Coisas da idade, né? Faz parte. O candidato dela ganhou as eleições e depois ainda raspou a poupança de todo mundo e sofreu impeachament. Espero que ela tenha aprendido a lição.
E mesmo quando eu ainda nem votava, eu escolhia meu candidato e fazia campanha. A escolha deste candidato também era movida pela emoção. Faz parte do nosso aprendizado político, tão necessário. Numa campanha para governador de São Paulo, antes de termos o direito ao voto para presidente, eu decidi que meu candidato era um senhor chamado Rogê Ferreira, que era do PDT. Nem era o candidato da minha família, mas era o meu. Eu tinha liberdade de escolha - o ano era 1982 e eu tinha 9 anos.
Os outros candidatos eram Franco Montoro, Lula, Jânio Quadros. Mas eu escolhi o Rogê. Gostei muito dele, principalmente porque ele era velho. No melhor sentido da palavra velho. Era um velhinho que me passava algo bom, uma honestidade, sinceridade. Além disso, ele era o pior colocado nas pesquisas, não tinha a menor chance. Fiquei com pena e queria dar uma força.
E, no alto dos meus 9 anos, eu escrevi uma carta para o jornal Folha de São Paulo contando a minha idade e dizendo que eu queria muito votar e que se eu pudesse votar seria no Rogê Ferreira. Não é que o jornal publicou minha carta? E mais: ao lado de um outro eleitor que também tinha escrito declarando que votaria no Rogê. Este eleitor era ninguém menos que Roberto Carlos, o Rei. Eu me achei importante demais. Se Rogê tivesse 2 votos - ah se eu pudesse votar - esses votos seriam o meu e o do Roberto Carlos, um dos meus ídolos já naquela época.
Mas o melhor veio depois: a (pequena) equipe do Rogê Ferreira entrou em contato com a redação do jornal pedindo meu endereço e me mandou uma camiseta da campanha dele, com um bilhetinho do candidato. Eu tinha 9, lembram? A camiseta era G de adulto, ficou quase arrastando no chão. Mas eu me senti imensamente feliz e desde então tirar meu título de eleitora passou a ser um sonho.
Adolescentes queridos, como meus 3 filhos Laura, Isabel e André. Tirem o título de eleitor e entendam sobre o que eu estou falando. Título em mãos é como um troféu, é um direito seu e, acima de tudo, um dever. Você pode sim fazer a diferença com isso para a sua vida e para toda a sociedade. Vamos nessa?
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