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Crescem casos de ansiedade em crianças e jovens. O que está acontecendo?
Esta semana acompanhamos o assustador caso de um surto coletivo de ansiedade. Alunos da Escola de Referência em Ensino Médio Ageu Magalhães, no bairro da Tamarineira, na Zona Norte do Recife, passaram mal e precisaram receber atendimento médico. O Samu informou que recebeu um chamado para atender 26 alunos. Eles apresentaram ao mesmo tempo falta de ar, tremor e crises de choro.
Sabe quando a gente diz: o resultado de tudo isso só saberemos no futuro? Pois o futuro chegou. Quando surgiram o celular, a internet e as redes sociais, me lembro muito dessas conversas sobre qual seria o efeito a longo prazo dessas novidades em nossas vidas. E agora que estamos no futuro, como pais e mães de uma geração que já nasceu conectada, estamos sentindo as consequências disso. Os casos de crianças e adolescentes com depressão, ansiedade, crise de pânico e até a chamada "Síndrome da gaiola"(quando eles não querem mais sair de casa e viver em sociedade) dispararam.
Todos esses quadros foram ainda mais agravados com a pandemia e o período de isolamento que foi necessário para nos protegermos do coronavírus. Neste momento, noto o desespero das famílias e das escolas para aprender a lidar com a situação e poder ajudar nossos filhos e filhas. Os sintomas são emocionais e também físicos. A ansiedade, por exemplo, pode causar sudorese, taquicardia, insônia, falta de ar. Nada disso é frescura, é muito sério e merece atenção.
A ansiedade é caracterizada por um estado de alerta que leva a criança ou adolescente a se mostrar mais inseguro (crianças tendem a parecer mais infantilizadas e dependentes), com mais medos, frequentemente apresentando uma postura de evitar situações que sejam diferentes ou às quais ela não se expõe há tempo. Bastante comum também são os problemas de sono e alterações no apetite, prejudicados por tal estado de alerta. Preocupações "de adulto", como passar a pensar demais no futuro, com as contas da casa ou com a saúde (de si e dos pais) também ocorrem.
Para o psiquiatra da infância e adolescência Gustavo Estanislau, do Instituto Ame Sua Mente, co-autor do livro "Saúde mental na escola: o que os educadores devem saber" muitas crianças e adolescentes estão mais suscetíveis a gatilhos que geram ansiedade após a pandemia. Voltar às aulas presenciais após dois anos foi bem complicado, e surtos coletivos podem realmente acontecer. "Uma crise de ansiedade é um fenômeno muito angustiante, é possível que isso desencadeie crises em outras pessoas que estão mais suscetíveis", afirma o especialista.
O Instituto Ame Sua Mente, presidido pelo psiquiatra Rodrigo Bressan, foca seu trabalho em saúde mental nas escolas e durante a pandemia fez rodas de conversas com educadores da rede pública de São Paulo. Na volta às aulas, coordenado por Gustavo, o Instituto lançou um manual de orientação para professores acolherem os alunos e poderem identificar problemas emocionais. Este manual ajuda também cuidadores e pode ser baixado gratuitamente no site do Ame Sua Mente.
Em grupos de pais e mães que acompanho em redes sociais, noto a preocupação das famílias, não só com as questões emocionais, mas também pedagógicas. É claro que isso iria acontecer, já que o ensino remoto não substitui o presencial. A média da nota dos alunos e alunas nas provas têm sido muito abaixo do esperado, revelando que, sim, eles vão levar um tempo para se recuperar das perdas na aprendizagem.
Ressaltando ainda que muitos estudantes nem tiveram acesso às aulas online ou, pior, abandonaram a escola, nos trazendo ainda mais uma triste realidade: a da evasão escolar, estampada nos rostos das crianças que vemos espalhadas pelas esquinas das grandes cidades pedindo ajuda, comida, um socorro.
Gustavo me explicou ainda que o afastamento social e as mudanças drásticas das rotinas por um período tão longo, associado ao período de incertezas (mortes por Covid-19, desemprego), são apenas alguns dos fatores que predispõem ao aumento da ansiedade em crianças e adolescentes. O pessimismo em relação ao futuro também precisa ser considerado. "Nosso cérebro tem a função de nos auxiliar a nos adaptarmos a todas essas coisas, mas frente a tantos gatilhos na retomada deste ano, gastamos mais energia, nos sentimos mais à flor da pele e em frente estado de alerta."
Mas, voltando à nossa responsabilidade como pais e mães, nós também não estamos muito mais ansiosos? Muito mais no celular, nas redes? Ansiosos por causa da ansiedade dos filhos? Como explicou o psiquiatra Gustavo Estanislau, ansiedade gera ansiedade. Pais ansiosos, filhos ansiosos. Seria, então a ansiedade contagiosa?
Acho que chegou a hora de respira fundo, desacelerar, lembrar de ter calma, paciência. Palavras e atitudes tão em desuso. Vamos nos desconectar dos aparelhos para nos reconectarmos com nossos amores, nossos maiores afetos, esses pequenos seres que colocamos no mundo e assumimos o compromisso de criar e cuidar.
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